Capital natural de
empresas pode ser calculado por meio da avaliação
de recursos como água, ar, solo e energia
elétrica
Brasília, 10 de junho
de 2013 —Reconhecer o real valor do capital
natural de uma companhia, bem como os custos
decorrentes de sua perda e degradação
são os objetos do estudo denominado
A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade
(TEEB, da sigla em inglês). Iniciado
em 2007, dentro do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o TEEB
tem foco especial em políticas públicas.
No Brasil, a proposta pioneira é envolver
o setor privado para a gestão estratégica
de riscos e oportunidades relacionadas à
biodiversidade e aos serviços ecossistêmicos.
Com a coordenação da ONG Conservação
Internacional (CI-Brasil), o TEEB para o Setor
de Negócios Brasileiro tem patrocínio
da Monsanto, Vale, Natura e Santander.
Segundo a gerente de Relações
Corporativas da CI-Brasil, Paula Ceotto, o
objetivo principal do projeto é fornecer
informações e ferramentas para
melhores práticas empresariais relacionadas
à biodiversidade. “Juntar duas ciências
complexas, a econômica e a ambiental,
é um desafio que está sendo
estruturado globalmente em várias frentes.
E somos o único país a desenvolver
um TEEB para as empresas”, afirma Paula.
O valor do Cerrado
No momento, a Monsanto trabalha em um projeto
piloto que irá valorar os serviços
ecossistêmicos de um hectare do Cerrado
e de um hectare de lavoura de soja no oeste
da Bahia. Os dados e metodologias de avaliação
do bioma e da cultura estão sendo organizados
pela Trucost, consultoria inglesa especializada
na mensuração de custos financeiros
associados ao uso dos recursos naturais. “Levamos
os consultores da Trucost à fazenda
de um multiplicador de sementes, em Luis Eduardo
Magalhães (BA), para conhecer o processo
produtivo e a realidade dos agricultores brasileiros”,
relata Daniela Mariuzzo, gerente de Sustentabilidade
da Monsanto. Em julho deste ano, deve ser
apresentado o primeiro esboço da valoração,
que incluirá custos associados à
água, ar, solo, energia elétrica,
entre outros fatores.
Na opinião da consultora da Trucost,
Caroline Bartlett, o Cerrado é rico
em biodiversidade e tem funções
essenciais para a sociedade e o meio ambiente,
por conta de seus ciclos de nutrientes e água,
proteção contra erosão
e enchentes, regulação climática,
além de possuir valores culturais e
espirituais. “Aplicar um valor monetário
a esses serviços e aos impactos ambientais
das práticas agrícolas permitirá
sua consideração nas estratégias
de negócios. Com esse trabalho, a Monsanto
poderá ajudar os agricultores a administrar
e conservar a terra, garantindo a sustentabilidade
econômica, social e ambiental da agricultura”,
avalia Caroline.
Engajamento do setor privado
Dentro da proposta do TEEB para o Setor de
Negócios Brasileiro, representantes
de empresas privadas e outros públicos
de interesse participam de fóruns temáticos.
O primeiro encontro foi realizado em 9 de
maio, na Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo (FIESP), e abordou
os desafios para a incorporação
do capital natural nas estratégias
organizacionais. Outros dois fóruns
complementares devem acontecer até
o fim do ano.
“Está nas mãos das empresas
do agronegócio e da produção
de alimentos a liderança para desenvolver
mecanismos econômicos e financeiros
que viabilizem a remuneração
dos serviços ecossistêmicos prestados
pelas propriedades rurais no Brasil. O TEEB
é um conceito central para que esses
mecanismos sejam desenvolvidos e implementados”,
avalia Daniela Mariuzzo, gerente de Sustentabilidade
da Monsanto.
+ Mais
Caratinga+30 celebra o resultado
de proteção ao muriqui
O aumento da população
de Muriquis, maior primata das Américas,
comprova a eficiência da união
de pesquisa científica e conservação
Belo Horizonte, 14 de junho
de 2013 —A cidade de Caratinga (MG), localizada
na Bacia do Rio Doce, a quase 400 km da capital
Belo Horizonte, realizará entre os
dias 14 e 18 de Junho uma série de
atividades para marcar os 30 anos de pesquisas
e proteção do muriqui e seu
habitat. O evento, denominado Caratinga+30,
é promovido pela prefeitura municipal
e servirá também para pensar
o futuro do município, mundialmente
famoso por abrigar a Estação
Biológica de Caratinga, um centro de
pesquisas localizado no interior da Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
Feliciano Miguel Abdala.
Reconhecida como RPPN em
2002, a reserva se manteve intacta graças
ao ideal de seu fundador, que nos anos 50
prometeu proteger a floresta da fazenda, enquanto
a derrubada das matas vizinhas era festejada.
No final da década de 1970, o proprietário
encontrou um importante aliado para sua causa:
cientistas interessados em realizar pesquisas
de longa duração sobre os muriquis.
Desde então, a área se tornou
um laboratório natural para a proteção
de várias espécies da biodiversidade
brasileira. “A RPPN Feliciano Miguel Abdala
está entre os cinco locais de maior
prioridade do mundo para a conservação
de primatas por combinar o longo histórico
de pesquisa e a presença de algumas
das mais importantes e ameaçadas espécies
de primatas do mundo”, afirma o primatólogo
e presidente da Conservação
Internacional, Russell Mittermeier, que marcará
presença no Caratinga+30.
Os muriquis, os maiores
primatas das Américas, são considerados
uma espécie bandeira para a proteção
da Mata Atlântica. Muriqui é
uma palavra de origem indígena que
significa “povo manso da floresta”. Ao longo
da última década já figurou
entre as espécies de macacos mais ameaçadas
do planeta, mas suas chances de extinção
vêm diminuindo devido aos bem-sucedidos
esforços de conservação.
As duas espécies – Brachyteles arachnoides
(muriqui-do-sul) e Brachyteles hypoxanthus
(muriqui-do-norte) – já ocupam o papel
similar àqueles representados pelo
panda-gigante, na China, o tigre na India,
o orangotango, no sudeste asiático,
e os gorilas, na África. A RPPN Feliciano
Miguel Abdala é um dos últimos
refúgios do muriqui-do-norte. Hoje,
existem apenas cerca de 1.200 indivíduos
na natureza, sendo que mais de um terço
dessa população está
em Caratinga.
Para chamar a atenção
para os muriquis e torná-los mais conhecidos
pela população, foi lançada
uma campanha para torná-lo mascote
oficial dos Jogos Olímpicos 2016, que
serão realizados no Rio de Janeiro.
Para Beto Mesquita, diretor para a Mata Atlântica
da Conservação Internacional,
uma das organizações que apoia
a campanha, “transformar o muriqui em mascote
olímpico aumentará o conhecimento
público sobre a espécie, aumentando
assim sua proteção, bem como
do seu hábitat, que é a Mata
Atlântica.”
Ao longo dos últimos
30 anos, várias publicações
técnicas e artigos científicos
foram desenvolvidos, a partir das informações
geradas pelas pesquisas realizadas em Caratinga.
“A Estação Biológica
de Caratinga é a prova de que a estratégia
de conservação que se baseia
na presença de longo prazo da pesquisa
científica no campo, é eficiente
e gera resultados definitivos. Esperamos que
Caratinga continue sendo alvo das investigações
de muitos pesquisadores e cientistas que queiram
contribuir com a preservação
das florestas tropicais”, comenta a Dra. Karen
Strier, da University of Wisconsin, em Madison,
nos Estados Unidos, que coordena as pesquisas
em Caratinga e estará presente no evento.
A Mata Atlântica é
um dos sistemas florestais mais ricos e diversos
do mundo. É também um dos mais
ameaçados, situando-se entre os cinco
principais hotspots de biodiversidade do planeta.
Esse bioma, que originalmente cobria 1,3 milhão
de km2, hoje está reduzido a menos
de 16% de sua extensão original. Em
Minas Gerais, a situação é
ainda mais grave, onde restam apenas 10% da
área original do bioma cobertos por
remanescentes de Mata Atlântica. O estado
de Minas tem registrado as maiores taxas de
desmatamento nos últimos quatro anos.
O evento de comemoração
de 30 anos da Estação Biológica
de Caratinga tem a colaboração
de diversas universidades, instituições
públicas e privadas, incluindo o Instituto
Estadual de Florestas (IEF/MG), o Instituto
Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), a Prefeitura de
Caratinga, a Universidade de Wisconsin-Madison,
a Universidade do Espírito Santo, a
Sociedade Preserve Muriqui (SPM) e a Conservação
Internacional, com apoio de empresas locais.