Brasília (05/08/2013)
– Descoberto pela ciência há
apenas 14 anos, o macaco guigó, também
chamado de guigó-de-coimbra-filho ou
guigó de Sergipe (Callicebus coimbrai),
espécie endêmica
(exclusiva) da Mata Atlântica sergipana
e do norte da Bahia, já é considerado
extinto em 14 dos 125 fragmentos florestais
em que foi registrado. O desaparecimento coloca
em risco a existência da espécie
que hoje integra a lista oficial dos 26 primatas
ameaçados de extinção.
Exatamente, por isso, o
biólogo Leandro Jerusalinsky, que coordena
o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação
de Primatas Brasileiros, do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio/CPB), alerta os vários setores
da sociedade envolvidos com a conservação
para a necessidade de unir esforços
e dar todo o apoio às ações
de preservação do guigó.
Segundo Jerusalinsky, a
perda de habitat, o impacto ambiental provocado
por atividades relacionadas à urbanização,
à produção agropecuária
e às tentativas de domesticação
dos animais, é a principal causa de
ameaça. "A caça e a captura
de animais para domesticação
levam à redução das populações
naturais, implicando desestruturação
demográfica e perda de variabilidade
genética, o que torna as populações
mais suscetíveis à extinção",
diz o biólogo.
Projeto
Ao lado de Renato Hilário,
doutor em zoologia, Leandro integra o Projeto
Guigó, que atua em parceria com a Universidade
Federal de Sergipe (UFS) e com a Secretaria
de Meio Ambiente do Estado (Sermarh). Nos
últimos dez anos, o projeto vem estudando
o comportamento da espécie em campo
com o objetivo de definir estratégias
de conservação.
Os dados recolhidos pelos
pesquisadores foram compilados em duas teses
defendidas entre janeiro e julho deste ano.
Os resultados serão apresentados no
Congresso Brasileiro e Latino-Americano de
Primatologia, que ocorre até sexta-feira
(9) em Recife (PE), e também no Seminário
de Pesquisa do ICMBio, entre 10 e 12 de setembro,
em Brasília. "A análise
das teses defendidas nesses trabalhos é
muito relevante porque confirma que as populações
de guigós, especialmente as que estão
em pequenos fragmentos isolados estão
sendo gradualmente extintas", afirma
Leandro.
Plano de ação
Durante a apresentação
também serão abordadas estratégias
propostas pela pesquisa para o Plano de Ação
Nacional para a Conservação
dos Primatas do Nordeste. Em 2010, foi criado
em Capela (SE) o Refúgio da Vida Silvestre
Mata do Junco (RVS), uma unidade de conservação
estadual de proteção. O espaço,
a 70 quilômetros de Aracaju, tem quase
900 hectares de Mata Atlântica destinados
à proteção das nascentes
do riacho Lagartixo e à preservação
de espécies ameaçadas de extinção.
A área, entretanto,
não é o suficiente para a conservação
das populações. Segundo Leandro,
a maior dificuldade de manter a espécie
em equilíbrio é a manutenção
dos fragmentos florestais e a complexidade
para conectá-los novamente. O macaco
guigó é considerado um animal
territorial que só convive com indivíduos
da mesma espécie. Essa adaptação
pode ajudar na obtenção de alimentos
e na observação de possíveis
predadores, o que garante a sua sobrevivência.
A preservação da espécie
fortalece as ações de conservação
dos fragmentos de Mata Atlântica.
O desequilíbrio ambiental
pode provocar a endogamia, quando os animais
se vêem obrigados a se reproduzir entre
membros da mesma família. Isso pode
causar sérios problemas para os genes,
deixando as populações mais
suscetíveis a doenças. "Mesmo
com o Projeto Guigó, estimamos que
a espécie possa vir a se extinguir
localmente em poucas décadas",
alerta Leandro. A variabilidade genética
é a fonte fundamental da evolução
e é o que assegura o potencial evolutivo.
O macaco guigó
• O guigó é
considerado um primata de médio porte,
podendo atingir até 390 milímetros
de comprimento. A cauda pode ter 1/3 ou ¼
desse tamanho. O peso varia entre 1 a 2 kg.
A testa e orelhas são pretas e o corpo
acinzentado, com cauda alaranjada.
• A população
da espécie é formada por grupos
de 3 a 6 indivíduos, com um casal adulto
monogâmico e outros 3 indivíduos,
variando entre infantil a subadultos.
• São animais com
hábitos crípticos (difícil
de perceber ou de interpretar). Ou seja, conseguem
se camuflar facilmente na floresta, se alimentam
na maior parte das vezes de frutos, flores
e plantas e descansam por um longo período.