Notícia
- 28 - ago – 2013 - Uma tonelada e meia de
briquete de carvão foi derramada em
frente ao prédio do MME (Ministério
de Minas e Energia), em Brasília, na
manhã de hoje. Sujos dos pés
à cabeça por uma poeira negra,
ativistas abriram uma faixa com a mensagem:
“Lobão, carvão no leilão
não!”. Outro ativista, vestido com
uma máscara do ministro Edson Lobão,
escalou a pilha de carvão para leiloar,
pessoalmente, uma das piores fontes energéticas
que existem.
O protesto foi um recado
do Greenpeace ao ministro contra a volta do
carvão ao leilão de energia
A-5 – empreendimentos com início de
operação em até cinco
anos –, que acontece nesta quinta-feira, 29.
Para deixar claro o que a organização
pensa sobre o uso dessa fonte de energia,
uma grande pepita de carvão com uma
carta a Lobão foi protocolada na entrada
no edifício.
Há quatro anos sem
serem ofertadas ao mercado elétrico,
as usinas térmicas movidas por essa
fonte voltam com força ao cenário
energético brasileiro, em um retrocesso
histórico do governo. De todos os combustíveis
fósseis, o carvão é o
que mais emite gases do efeito estufa. Para
cada kWh de eletricidade produzida, um quilo
de CO2 é despejado na atmosfera. Para
efeitos comparativos, a cadeia de produção
da energia eólica emite 12 gramas de
CO2 para cada kWh produzido.
“A decisão de trazer
o carvão de volta à matriz energética
é injustificável. O governo
insiste em retroceder a largos passos e evidencia
uma visão míope e limitada ao
curto prazo”, critica Renata Nitta, da campanha
de Clima e Energia do Greenpeace. “Enquanto
o mundo inteiro busca formas mais limpas de
gerar energia, o Brasil ignora seu imenso
potencial de fontes renováveis – como
solar, eólica e biomassa – para optar
pela fonte mais suja de todas.”
Recentemente, o Banco Mundial
e o Banco Europeu de Investimentos anunciaram
restrições ao financiamento
de usinas a carvão. A recomendação
era injetar dinheiro nessas plantas “somente
em raras circunstâncias”, nos casos
em que o país “não tenha alternativa”.
Em 2009, o próprio governo brasileiro
baniu o carvão dos leilões energéticos,
justamente pelos altos níveis de poluição
do ar e de emissões de gases estufa.
Agora, a fonte volta com
tudo: 41% da energia oferecida no leilão
do dia 29 é de carvão. A explicação
oficial para a retomada dessa fonte é
a segurança energética do país.
Com uma matriz muito dependente de hidrelétricas,
o governo decidiu diversificar a matriz com
energia suja. Como se faltassem alternativas
renováveis. Investimentos importantes
para o desenvolvimento de fontes limpas já
estão sendo desviados para financiar
o carvão, como a recente decisão
de zerar os impostos para a compra desta matéria
prima. Junto com a poeira, a pergunta que
fica no ar é: quem está ganhando
com isso?
“É claro que o Brasil
precisa diversificar sua matriz e reduzir
a dependência das hidrelétricas.
Mas usar térmicas a carvão é
leviano, quando se tem um potencial mal explorado
de outras energias renováveis”, diz
Nitta. “Se aproveitarmos entre 5% e 10% do
nosso potencial solar, já seria suficiente
para atender à atual demanda nacional
de energia. A cogeração a partir
do bagaço de cana geraria o equivalente
a três usinas de Belo Monte. E a recente
explosão da produção
eólica no país tornou o preço
da fonte muito competitivo. No último
leilão, seu preço atingiu R$110
o MW. Agora, o carvão está saindo
a R$ 140”.
Ela acrescenta que essas
fontes têm toda capacidade de complementar
o atual sistema. Durante o período
de seca, quando normalmente os níveis
dos reservatórios caem, é quando
se tem o maior volume de radiação
solar e de ventos. Além disso, a possibilidade
que as renováveis oferecem de geração
perto dos centros consumidores torna mais
segura e econômica sua distribuição,
evitando o pesadelo dos apagões.
Este cenário de soluções
o Greenpeace apresentou na véspera
do protesto, em uma coletiva de imprensa onde
foi divulgado o relatório [R]evolução
Energética. O documento mostra que
nas próximas quatro décadas,
o país pode ter os setores elétrico,
industrial e de transporte alimentados majoritariamente
por energia limpa: 66,5% de sua matriz pode
ser movida por fontes como vento, sol e biomassa.
Quando se considera apenas a matriz elétrica,
essa possibilidade salta para 92%. “É
uma questão de escolha: queremos olhar
para o futuro e fazer uma revolução
energética ou continuar presos a fontes
sujas e ultrapassadas?”, questiona Nitta.