Sexta, 25 Outubro 2013 -
SOPHIA GEBRIM - A correta destinação
de dejetos animais, embalagens de agrotóxicos
e lubrificantes, sucatas de maquinário
agrícola e outros resíduos gerados
no interior do país foi o tema discutido
no painel Gerenciamento de Resíduos
no Meio Rural, na manhã desta sexta-feira
(25/10), no ciclo de debates da 4a Conferência
Nacional do Meio Ambiente (CNMA), que acontece
até o próximo
domingo (27/10), em Brasília.
A ministra do Meio Ambiente,
Izabella Teixeira, participou do debate e
destacou a necessidade de soluções
específicas e alternativas para o setor
dentro da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), tema central da 4a
CNMA. “Infelizmente, a lei não dialoga
completamente com o campo, no entanto, como
podemos resolver isso?”, questionou. “As pessoas
terão que andar 70 km ou mais para
entregar o lixo, como o catador vai encontrar
soluções nessas áreas
distantes?”.
LOGÍSTICA REVERSA
Para a ministra, é
necessário saber como será feito
o tratamento desses resíduos no meio
rural, para que a região não
seja uma alternativa para os resíduos
gerados no meio urbano. “Se um determinado
produto chega e é vendido no campo,
deve existir uma logística reversa
para o mesmo”, afirmou, referindo-se ao processo
pelo qual os rejeitos são recolhidos
pelo fabricante ou comerciante. Segundo ela,
as alternativas para esse debate devem aprimorar
a visão de baixo para cima, mostrando
as soluções de modo que cada
setor envolvido nesse processo tenha o seu
papel definido.
O secretário de Extrativismo
e Desenvolvimento Rural Sustentável
do Ministério do Meio Ambiente, Paulo
Cabral, fez a apresentação do
tema. “É importante ter alternativas
para a gestão dos resíduos no
campo, queremos aproveitar essa oportunidade
de diálogo para expor alternativas
e verificar o que já funciona e pode
ser replicado”, disse. Cabral destacou, ainda,
o papel de comunidades que historicamente
vivem no campo e nas florestas e contribuem
com a preservação do meio ambiente
e que também precisam de soluções
para a destinação de lixo.
Como coordenador do painel,
o prefeito de São Gabriel do Oeste
(MS), Adão Rolim, explicou o que vem
sendo feito na cidade, inserida na Bacia Hidrográfica
do Rio Paraguai, e abriga as nascentes de
dois rios de grande importância para
a Planície Pantaneira, o rio Coxim
e o rio Aquidauana. “Como somos grandes produtores
de suínos, queremos que a nossa atividade
seja sustentável”, afirmou. Ele explicou
que mais de 2,5 mil pessoas, envolvidas com
a suinocultura na região, já
trabalham há alguns anos com o recolhimento
e reciclagem de embalagens de agrotóxicos,
além de atuarem já com práticas
se conservação do solo, recuperação
de matas nativas, educação ambiental
e transformações de dejetos
animais em energia.
PESQUISA
Como pesquisadores do tema
de resíduos sólidos no meio
rural, Regina Rosa, do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) e Ivan Bergier,
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) unidade Pantanal, apresentaram o
que já vem sendo desenvolvido na área.
“Um dos pontos que verificamos é que
o resíduo gerado no processo produtivo
do campo não gera problemas, pois é
facilmente reutilizado como adubo, fertilizante
e fonte de energia. O que verificamos é
a falta de incentivos e políticas para
o resíduo gerado na agroindústria,
além de embalagens de medicamentos
veterinários e de fertilizantes”, disse
Regina.
Além do potencial
energético, os resíduos animais
podem se tornar importante fonte de alimentação
e de nutrientes para o solo. “O avanço
na melhoria de técnicas para reutilização
desses resíduos e a criação
de fundos de investimento são algumas
das sugestões gerais que identificamos
com o estudo do IPEA, de modo geral a incentivar
o reaproveitamento do material inutilizado
no meio rural”, destacou. Um ponto positivo
apresentado por Regina é que 95% das
embalagens de agrotóxicos hoje já
são recicladas. “Por outro lado, a
avaliação negativa da pesquisa
é que 11 milhões de toneladas
de lixo da área rural ainda não
são recolhidas”, acrescentou.
Ivan Bergier, da Embrapa
Pantanal, que lidera uma pesquisa sobre tratamento
de dejetos da suinocultura, aposta em uma
mudança de filosofia e de pensamento
para solucionar o problema. “Temos que reduzir
a entrada de insumos não renováveis
no campo, reduzir o impacto do efeito estufa,
além de tentar aumentar a sustentabilidade
da agricultura brasileira e a geração
de energia limpa e renovável”, assegurou.
Segundo ele, se o agricultor conseguir produzir
energia a partir de fontes renováveis
limpas, é possível reduzir a
emissão de gases efeito estufa e a
poluição das áreas de
preservação ambiental. Além
disso, com a geração de energia
por meio da biodigestão (método
de reciclagem que resulta na produção
de adubo), o agricultor pode diversificar
a sua fonte de renda.
Bruno Caporrino, assessor
do Instituto de Pesquisa e Formação
Indígena (Iepé) apresentou um
trabalho que vem sendo desenvolvido há
mais de 30 anos entre os índios Wajãpi,
no Estado do Amapá. “É um povo
que historicamente produz tudo o que precisa
e sabe destinar corretamente o que sobra desse
material, porém, com o atual processo
de industrialização, muitas
vezes os índios não sabem o
que fazer com os resíduos que surgem
nas suas aldeias”, explicou. Segundo ele,
uma alternativa que vem sendo implantada é
a construção de malocas específicas
para o armazenamento de lixo nas aldeias.
“São comunidades que possuem uma visão
ambiental engajada com as suas necessidades
sociais, sem agredir o meio ambiente e os
recursos naturais”.