27 Novembro 2013 | Pesquisa
de opinião foi apresentada pelo Programa
Água Brasil no I Seminário Brasileiro
de Gestão de Resíduos ontem,
dia 26
Em Natal, 86% dos moradores
sabem o que é coleta seletiva. Mas
apenas 46% das residências são
atendidas pelo serviço. 94% dos natalenses
que não têm acesso ao serviço
disseram estar dispostos a separar o lixo,
caso venham a ter coleta seletiva. Porém,
48% dos entrevistados não sabem o destino
do lixo não reciclável produzido
em suas casas e, como no restante do Brasil,
o conhecimento de legislação
sobre o tema e especificamente sobre a Política
Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) ainda é muito baixo.
Em 2012, o Instituto Ibope,
a pedido do Programa Água Brasil, ouviu
406 moradores de Natal, com mais de 16 anos,
das classes A/B (33%), C (53%) e D/E (14%),
para compreender os hábitos de consumo
e descarte de resíduos na cidade. Os
dados foram apresentados na terça-feira,
dia 26, pelo Programa Água Brasil no
I Seminário Brasileiro de Gestão
de Resíduos, que está sendo
realizado ao longo desta semana na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte.
A pesquisa faz parte do
estudo nacional Consumo Sustentável
realizado em outras quatro cidades: Caxias
do Sul (RS), Rio Branco (AC), Pirenópolis
(GO) e Belo Horizonte (MG). Foram ouvidos
2002 brasileiros. O Programa Água Brasil,
uma parceria do WWF, Banco do Brasil, Fundação
Banco do Brasil e Agência Nacional de
Águas, atua nas cinco cidades junto
às prefeituras e associações
de catadores na implementação
da agenda da PNRS.
“Na pesquisa, Natal se destacou
como uma praça onde a população
concede um peso um pouco maior a questões
sustentáveis e sociais. As campanhas
de conscientização de consumo
parecem eficazes quando feitas massificadas,
como é o caso das sacolinhas plásticas
e dos copos descartáveis, em menor
escala. O conhecimento sobre coleta seletiva
é alto, apesar de nem todos serem atendidos”,
destaca Natalia Gurgel, analista do Instituto
Ibope.
Consumo
Dentre os produtos consumidos com maior frequência,
estão produtos de limpeza perfumados
(97%), amaciante de roupas (81%) e água
engarrafada (76%).
Em relação
à posse de bens duráveis, 100%
dos entrevistados possuem fogão, 99%
geladeira e 98% televisor.
Descarte dos resíduos
Em Natal, 48% da população não
sabe o destino do seu lixo. Papel (96%), plástico
(98%), vidros (82%) e metais (85%) são
os materiais mais conhecidos como sendo recicláveis.
Conhecimento sobre coleta seletiva é
alto: 86% dos moradores entrevistados sabem
o que é o serviço. Mas apenas
46% das residências dos entrevistados
são atendidas. Os materiais são
recolhidos, em sua grande maioria, por catadores
(39%) e cooperativas (37%).
Chama atenção
a falta de conhecimento para compostagem de
resíduos: 81% dos entrevistados nunca
ouviu falar do assunto. Em contrapartida,
47% acreditam que mais educação
sobre o lixo irá ajudar a melhorar
a questão na cidade.
Consciência sobre
o tema e disposição para mudar
Questões ambientais ainda têm
uma percepção de importância
muito abaixo de outras questões sociais,
mas o acúmulo de lixo aparece como
um problema em Natal para 18% dos entrevistados.
Dentre os principais problemas
causados pelo lixo, 52% citaram transmissão
de doenças e 44% a contaminação
do solo.
Apenas 19% já ouviram
falar em alguma legislação sobre
lixo. 16% dos entrevistados disseram ter ouvido
sobre a PNRS. Logística reversa é
o tema mais conhecido da política:
31%.
A cobrança pela taxa
de lixo não é bem aceita em
Natal: 69% declararam ser contra. Apenas 28%
concordam com a cobrança da taxa.
Relação com
catadores
Os catadores de materiais recicláveis
são personagens conhecidos dos natalenses,
93% reconhecem os trabalhadores, 84% consideram
que eles prestam um serviço importante
à comunidade.
“Como em todo o Brasil,
em Natal há muitas oportunidades para
evoluirmos na gestão de resíduos,
em especial no que diz respeito à educação
ambiental da população. Vale
destacar que Natal tem se posicionado na vanguarda
ao promover a participação das
cooperativas de catadores de materiais recicláveis
na coleta seletiva”, afirma Gustavo Lemos,
líder do eixo Cidades Sustentáveis
do Programa Água Brasil, pelo WWF-Brasil.
+ Mais
Estrada ameaça sítio
do Patrimônio Natural Mundial
13 Novembro 2013 | por Aldem
Bourscheit, especialista em Políticas
Públicas do WWF-Brasil*
Tramita no Congresso Nacional um desabalado
projeto de lei que pretende abrir, “na marra”,
a Estrada do Colono, cortando ao meio o Parque
Nacional do Iguaçu. O autor da façanha
é um deputado paranaense do PT, partido
governista, que aposta na iniciativa para
turbinar sua reeleição em 2014.
A iniciativa, todavia, é pura quimera
desenvolvimentista, ameaça a conservação
da Mata Atlântica e está baseada
em premissas incorretas e distorcidas.
O Parque Nacional do Iguaçu
fica no oeste do Paraná, foi o primeiro
sítio brasileiro reconhecido como Patrimônio
Natural Mundial pelas Nações
Unidas, em 1986, recebe 1,5 milhão
de visitantes a cada ano — arrecadando R$
17 milhões em ingressos —, gera recursos
para os municípios vizinhos, com repasses
de ICMS Ecológico e apoio à
visitação, além de abrigar
uma das sete novas maravilhas naturais do
mundo, as Cataratas do Iguaçu.
Se fosse pouco, o parque
nacional foi criado, em 1939, por sugestão
de Alberto Santos Dumont (o brasileiro pai
da aviação) e é uma das
últimas grandes manchas íntegras
de Mata Atlântica do Brasil. Associado
a parcelas preservadas na Argentina e no Paraguai,
forma um grande corredor de conservação
ambiental, mantendo espécies magníficas,
como a onça-pintada. Aliás,
elas estão desaparecendo de lá
pelas agressões contínuas à
área protegida, o que pode se intensificar
com a abertura da estrada.
A dita Estrada do Colono
sempre foi uma via ilegal. Surgiu em 1954,
como uma picada no meio da mata, e, pela omissão
de sucessivos governos, se tornou uma estrada
rudimentar, ligando dois municípios
através de um parque nacional. Por
ter sempre levado problemas como caça
e desmatamento àquela unidade de conservação,
foi definitivamente fechada em 2001 pela Justiça
Federal e pelo Ministério do Meio Ambiente.
À época, vale
recordar, o governo federal se comprometeu,
junto às Nações Unidas,
em não mais permitir a abertura da
problemática estrada e a promover o
desenvolvimento sustentável regional
para compensar supostas “perdas econômicas”
com o fechamento daqueles 18 quilômetros
de pista.
Logo, torna-se no mínimo
curioso que o obtuso projeto do deputado paranaense
não pese nenhuma dessas questões.
Sua proposta aposta em uma onda de crescimento
econômico regional com a simples abertura
de uma estrada, que devoraria 17 mil metros
quadrados de Mata Atlântica em ótimo
estado. O parlamentar também joga suas
fichas em um truque de palavras para dar tons
verdes a sua proposta, ameaçando a
própria lei do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação.
Ele propõe a abertura
da via como uma “estrada parque”, figura não
reconhecida pela legislação
federal e desprovida de qualquer cunho realmente
ligado à conservação
da natureza. O Distrito Federal, por exemplo,
é cortado por várias estradas
parque, todas com alto tráfico urbano.
Para consolidar a manobra, seria preciso alterar
a lei que cuida de todas as unidades de conservação
do país.
É claro que muitos
parques nacionais e outras unidades de conservação
têm estradas em seu interior, mas, de
maneira geral, elas não servem ao trânsito
regional — são previstas nos planos
de manejo das áreas protegidas e usadas
para gestão, resgates e outras atividades
administrativas.
Há outros pontos
não explicados pelo parlamentar. Por
exemplo: como se daria o licenciamento ambiental
da estrada e de onde viriam os recursos para
obra de tal porte? Certamente os cofres públicos
seriam o alvo de tão desmedido projeto,
fazendo a população brasileira
arcar duplamente, com os ônus financeiro
e ambiental.
Tamanha quantidade de distorções
e ameaças reunidas em um único
projeto geraram reações, é
claro. O Ministério do Meio Ambiente
e o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade disseram não à
Estrada do Colono. A Polícia Federal
também, pela proximidade da rota com
a fronteira Brasil — Argentina — Paraguai.
Cerca de mil organizações
não governamentais ambientalistas brasileiras
também estão mobilizadas contra
a iniciativa. Esse time defende a integridade
do Parque Nacional do Iguaçu, é
claro, mas também a retomada dos compromissos
que o governo brasileiro assumiu frente às
Nações Unidas, em 2001.
Isso sim, fará
a diferença para o desenvolvimento
daquela porção do oeste paranaense,
contribuirá para a manutenção
do Parque Nacional do Iguaçu como sítio
do Patrimônio Natural Mundial, para
a economia local ligada ao turismo de natureza
e para a proteção da Mata Atlântica.