04 Dezembro 2013 | por WWF-Brasil
- Brasília (DF)
- O WWF-Brasil ressalta que exploração
do gás de folhelho no Brasil, conhecido
popularmente como gás de xisto, traz
enormes riscos de impactos ambientais e sociais
e ameaça de contaminação
e uso excessivo nossas águas. A entidade
também avalia que o contínuo
aumento do investimento em combustíveis
fósseis no país pode contribuir
para o aumento da temperatura global.
A Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) realizou em 28 de novembro a 12ª
Rodada de Licitações para Concessão
de Exploração e Produção
de Petróleo e Gás Natural. O
leilão permitiu pela primeira vez a
exploração de gás de
folhelho por fraturamento hidráulico
no país.
Todavia, Governo Federal
e ANP leiloaram os blocos desacatando parecer
do Ministério Público Federal
que recomendava a retirada do gás de
folhelho da rodada, até que estudos
mais conclusivos sobre seus impactos socioambientais
fossem realizados. Também ignoraram
os alertas da comunidade científica,
de órgãos públicos e
da sociedade civil organizada sobre os riscos
da extração do gás através
do fraturamento hidráulico.
Dos 240 blocos que foram
a leilão, 72 foram arrematados, sendo
49 adquiridos pela Petrobras e os demais pelas
empresas Geopark, Trayectoria Oil Gas, Alvo
Petro, Cowan Petroleo e Gás.
Localizados no Amazonas,
Acre, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Piauí,
Mato Grosso, Goiás, Bahia, Maranhão,
Paraná e São Paulo, os blocos
ofertados e adquiridos no leilão estão
próximos ou sobre os principais aquíferos
(reservatórios subterrâneos de
água) brasileiros e também de
parques nacionais e outras unidades de conservação,
territórios indígenas e de quilombolas,
assentamentos rurais e fazendas. Isso eleva
o potencial de impactos e conflitos socioambientais
e econômicos.
Os blocos arrematados no
Paraná e em São Paulo, pela
Petrobras e pela Petra Energia, estão
sobrepostos aos aquíferos Serra Geral,
Furnas, Bauru-Cauiá e Guarani. Esse
último é reconhecido como uma
das maiores reservas de água potável
do mundo e se estende aos países vizinhos
Argentina, Paraguai e Uruguai. A contaminação
de águas superficiais e subterrâneas
está entre os principais impactos da
exploração do gás de
folhelho.
Para sua extração,
é utilizado o fraturamento hidráulico,
a injeção de enormes quantidades
de água sob pressão (15 milhões
de litros por poço), com areia e sustâncias
químicas. Essa técnica está
associada a vazamentos e à contaminação
das águas subterrâneas e superficiais
e do solo em todos os países onde é
usada.
Por conta dos riscos e impactos
socioambientais comprovados da exploração
do gás de folhelho, países como
França, Alemanha, Uruguai, Estados
Unidos (o estado de Nova Iorque) e China (algumas
regiões) proibiram sua exploração.
Nos Estados Unidos a técnica é
largamente utilizada e há uma série
de denúncias de contaminação
de aquíferos e águas superficiais
próximas aos poços e usinas.
Lá, nos estados do Texas e da Pensilvânia,
muitas cidades estão sem água
potável e fazendeiros tentam, em vão,
reverter os prejuízos causados pela
contaminação das águas.
“O Brasil tem aumentado
investimentos em combustíveis fósseis,
na contra mão do necessário
maior investimento em energias descentralizadas
mais limpas e mais sustentáveis, como
a solar, a eólica e a de biomassa,
que podem tornar nossa matriz energética
descentralizada e com menor impacto socioambiental”,
comentou a secretária-geral do WWF-Brasil,
Maria Cecília de Brito.
Energia limpa – Previsto
para 13 de dezembro, o chamado 2º Leilão
de Energia A-5/2013 disponibilizará
687 empreendimentos de geração,
somando mais de 21 mil megawatts (mais informações
no atalho ao lado). As boas novidades são
a ampla participação da fonte
eólica, ampliando sua competitividade
e fatia na matriz nacional, e a presença
de energia solar em quantidade equivalente
a oferta de termelétricas a carvão.
“Esse leilão
mostra claramente que o Brasil tem todas as
condições para diversificar
sua matriz com fontes mais limpas e reduzir
impactos sociais e ambientais provocados,
por exemplo, pela insistência na geração
de energia no modelo de grandes barragens.
Falta vontade política para tornar
esse potencial uma realidade e colocar o país
na vanguarda global no uso de fontes alternativas
renováveis não convencionais”,
ressaltou Maria Cecília.