20/12/2013 - 11h56
Meio Ambiente
Ivan Richard
Enviado Especial da Agência Brasil/EBC
Xapuri (AC) - Amigo e companheiro de trabalho
de Chico Mendes, o pesquisador e professor
do Centro de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Federal do Acre (UFAC), Helder
Andrade de Paula, avalia hoje, 25 anos depois
do assassinato, que a projeção
internacional do líder seringueiro
foi crucial para a ocorrência do crime.
Ele analisa que os interessados
na morte do líder seringueiro não
calcularam que o crime colocaria os problemas
da Amazônia no centro do debate mundial
sobre o meio ambiente.
“Pessoalmente, achava que
os fazendeiros e aquela gente ligada ao poder,
a quem interessava eliminá-lo, não
seriam tão ousados para fazer aquilo
justamente naquele ano. Errei feio”, admitiu
Helder à Agência Brasil. Chico
Mendes foi assassinado em 22 de dezembro de
1988 com um tiro de espingarda no peito, na
cozinha de casa, em Xapuri.
Ainda pouco conhecido no
Brasil, em 1987 Chico tornara-se internacionalmente
um símbolo da luta pela preservação
da Floresta Amazônica e pelos direitos
dos trabalhadores extrativistas. Naquele ano,
sem falar inglês, denunciou a devastação
da floresta e a expulsão de seringueiros
ao Senado dos Estados Unidos. Também
conseguiu convencer diretores do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID) a suspender o financiamento
de projetos que impactavam a floresta.
Por esse trabalho, ele recebeu,
em Nova York, a Medalha da Sociedade para
um Mundo Melhor, e foi o primeiro brasileiro
homenageado com o Prêmio Global 500,
das Nações Unidas (ONU). Para
Helder Andrade de Paula, isso foi crucial
para a morte dele.
“Ao contrário do
que pensava em 1988, quando conversei com
o Chico, aquele prêmio acelerou a motivação
do assassinato. Ele tenderia a se tornar um
obstáculo cada vez maior. Não
só local, mas conhecido internacionalmente.
E o latifúndio nunca se intimidou diante
de ninguém. Mata padre, freira, imagina
se não mataria um seringueiro no Acre.
Além do mais, eles não tinham
ideia que a repercussão do crime poderia
atingir os níveis que atingiu”, avaliou.
Com a morte de Chico Mendes,
veículos de imprensa do Brasil e do
mundo foram para Xapuri e Rio Branco acompanhar
as investigações do crime. Helder
ressalta que, com isso, de líder seringueiro
e sindicalista, ele se tornou símbolo
das causas ambientalistas. “Depois do seu
assassinato ele se projetaria como ícone
da luta pela terra, da luta pelos povos que
vivem nas florestas deste país. Chico
Mendes virou um nome mundial, símbolo
dessa luta de resistência”, disse Helder
de Paula.
Edição: Marcos Chagas