09 Janeiro 2014 | por Aldem
Bourscheit - Um dos principais argumentos
usados pelos defensores da abertura de uma
rodovia pavimentada através do Parque
Nacional do Iguaçu, no oeste do Paraná,
é o de que a mesma alavancaria a economia
regional. Mas, estudo publicado em 2010 mostra
que a abertura da chamada “Estrada do Colono”
não teria papel relevante na economia
de municípios do oeste paranaense,
baseada na produção de soja,
milho, mandioca e trigo em pequenas propriedades.
“Os resultados mostram que
a abertura da estrada não pode ser
justificada a partir de uma perspectiva econômica.
A capacidade econômica das 14 cidades
(na região de influência do parque),
bem como outras cidades do estado do Paraná,
é mais dependente de transferências
dos governos federal e estadual, bem como
do ICMS Ecológico, do que de suas próprias
receitas, com exceção de Foz
do Iguaçu”, ressalta Ramon Arigoni
Ortiz em seu estudo para o Centro sobre Mudanças
Climáticas do País Basco (Espanha)1.
O trabalho foi baseado em
estatísticas e dados econômicos
oficiais, bem como em entrevistas com lideranças
da Associação de Integração
Comunitária Pró-Estrada do Colono
(Aipopec), políticos, Ibama, entidades
civis, comerciantes e moradores de cidades
como Serranópolis, São Miguel,
Matelândia, Foz do Iguaçu e Céu
Azul, todas vizinhas ao parque nacional.
Desde 2004, quando a pesquisa
foi feita, os principais argumentos apresentados
pelas fontes pró-estrada são
de perdas econômicas significativas
e crescimento econômico negativo com
o fechamento definitivo da estrada, o que
aconteceu em 2003 por ordem da Justiça
Federal. Além disso, alegam que a unidade
de conservação é um obstáculo
ao desenvolvimento regional e que haveria
dificuldades para famílias visitarem
seus parentes no outro lado do parque nacional
com o fechamendo da estrada.
“Essas pessoas ainda têm
a perspectiva dos colonizadores, que ocuparam
a região no passado e derrubaram a
floresta para uso agrícola da terra.
Este aspecto cultural estaria no centro do
problema relacionado à Estrada do Colono.
(...) Esta visão pode ser estimulada
com interesses político-eleitorais,
agravando a insatisfação popular”,
afirma Ortiz em seu estudo.
E de acordo com a socióloga
Maria de Lourdes Urban Kleinke, funcionária
aposentada do Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES) e que participou,
em 2005, da elaboração de um
parecer técnico da Procuradoria Geral
do Paraná sobre o fechamento da estrada,
em todas as conversas com a população
dos municípios próximos, nenhuma
história de relações
familiares comprometidas pelo parque foi de
fato encontrada.
“Durante a pesquisa, não
identificamos qualquer situação
que comprovasse que a reserva comprometeu
relações ou vínculos
afetivos”, lembra a socióloga na cartilha
A estrada não é o caminho, lançada
por entidades civis para frear o projeto de
lei que propõe a abertura de uma estrada
através do Parque Nacional do Iguaçu.
O material pode ser baixado no atalho ao lado.
Efeito de borda – Além
dos mais de 17 mil metros quadrados de Mata
Atlântica que podem ser desmatados se
a abertura da “Estrada do Colono” for autorizada
por deputados e senadores, estudos mostram
que os impactos negativos sobre animais e
plantas podem chegar a uma faixa de, pelo
menos, 100 metros de largura em cada lado
da via. É o chamado “efeito de borda”
que, no caso do trecho que pode ser cortado
no Parque Nacional do Iguaçu, atingiria
negativamente a conservação
da biodiversidade em uma área de quase
40 mil hectares2.
O "efeito de borda"
é uma "cicatriz" no meio
da mata conservada, pela qual há maior
entrada de luz, ventos e espécies exóticas,
alterando a dinâmica natural da floresta
e ameaçando a sobrevivência de
espécies nativas mais sensíveis.