Região abriga a maior
biodiversidade marinha conhecida em todo o
Atla?ntico Sul
Caravelas, 20 de fevereiro de 2014 — A Região
dos Abrolhos, uma área com cerca de
95.000 km2 entre a costa sul da Bahia e norte
do Espírito Santo, é reconhecida
como a maior biodiversidade
marinha conhecida em todo o Atlântico
Sul. Os recifes da região são
as maiores do Brasil, com estruturas únicas,
a exemplo dos chapeirões -- recifes
em forma de cogumelos de até 25 metros
de altura e 50 metros de diâmetro --
e dos corais-cérebro (Mussismilia braziliensis)
-- que têm a aparência de um cérebro,
encontrados somente no litoral baiano.
A Região dos Abrolhos
também apresenta a maior concentração
de baleias-jubarte da costa brasileira. Entre
julho e novembro, elas procuram as águas
quentes, tranquilas e pouco profundas da região
para acasalar e amamentar seus filhotes (elas
dão à luz apenas um filhote,
após uma gestação de
11 meses). Em torno de 28% das espécies
de cetáceos registradas no Brasil são
encontradas em Abrolhos -- a baleia-jubarte
é a mais abundante. Esse percentual,
no entanto, pode ser maior.
Inúmeros invertebrados,
peixes, quelônios, aves e mamíferos
marinhos ainda compõem a fauna local.
Além deles, diferentes tartarugas encontram
em Abrolhos importantes áreas de alimentação
e reprodução. São elas
as tartarugas-verde, de pente, de couro e
cabeçuda.
Aves residentes e migratórias
também se estabelecem no arquipélago
para se alimentar e nidificar, como a grazina,
os atobás-mascarado, marrom e beneditos.
Em levantamento da biodiversidade
local (Rapid Assessment Program, em inglês),
foram registradas cerca de 1,3 mil espécies.
Quarenta e cinco delas, porém, eram
consideradas ameaçadas de extinção,
segundo a IUCN (2003) e o IBAMA (2003 e 2004).
Para manter vivo esse verdadeiro
tesouro natural do Brasil e do mundo, a Aliança
para Conservação de Ecossistemas
Marinhos e Costeiros Associados à Mata
Atlântica, parceria entre as organizações
Conservação Internacional (CI-Brasil)
e Fundação SOS Mata Atlântica,
criou a campanha Adote Abrolhos.
+ Mais
Abrolhos integra estudo
internacional sobre restrição
à pesca
Pesquisa avaliou restrição
à pesca em 87 áreas protegidas
Caravelas, 20 de fevereiro de 2014 — Uma iniciativa
internacional, envolvendo profissionais de
13 países, comparou 87 áreas
marinhas protegidas no mundo todo, do ponto
de vista da eficácia de políticas
de restrição à pesca.
O ponto escolhido no Brasil foi Abrolhos,
o maior complexo de recifes de coral do Atlântico
Sul, localizado no sul da Bahia e norte do
Espírito Santo. Os resultados foram
divulgados pela revista Nature no começo
de fevereiro, e o biólogo responsável
pela análise brasileira foi Rodrigo
Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) – que realizou o trabalho em 2012.
Segundo os números
divulgados, a riqueza de espécies de
peixes grandes em áreas protegidas
é 36% maior do que nos locais onde
a pesca é permitida. Já a biomassa
(o peso total) também é afetada
positivamente pela restrição:
35% maior pa peixes grandes e o dobro no caso
dos tubarões.
“Nosso objetivo principal
com a campanha Adote Abrolhos é mostrar
a importância em aumentar a proteção
efetiva da Região dos Abrolhos”, afirmou
o diretor do programa marinho da Conservação
Internacional (CI-Brasil), Guilherme Dutra,
completando “esse estudo traz elementos importantes
para se pensar novas áreas protegidas
e mesmo a melhora de gestão em unidades
de conservação já existentes”.
Em entrevista para a revista
Pesquisa FAPESP, o biólogo Rodrigo
Moura afirma que embora tenha sido analisado
um único ponto na costa brasileira,
o estudo não perde em riqueza de informações,
uma vez que Abrolhos inclui áreas com
diferentes regimes de manejo. Segundo ele,
a região abriga desde áreas
“relativamente bem fiscalizadas”, onde a pesca
é proibida desde a década de
1980, até áreas que são
protegidas “no papel”, mas onde a pesca ainda
é realizada abertamente. Outros estudos
realizados em Abrolhos já comprovaram
que as áreas sem pesca possuem maior
quantidade de peixes, e que as reservas ajudam
a manter o estoque pesqueiro das regiões
adjacentes. Moura afirma ainda que o Brasil,
como signatário da Convenção
da Diversidade Biológica, está
“devendo” ao mundo a criação
de uma rede de áreas protegidas, representativa
e bem manejada.
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Na rota de Darwin, Abrolhos
encantou o naturalista
Charles Darwin esteve na
região durante a Expedição
Beagle
Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 2014 —
É relativamente notório que
o autor do clássico “A Origem das Espécies”,
o naturalista inglês Charles Darwin
(1809-1882), esteve em Salvador e no Rio de
Janeiro quando passou pelo Brasil, em 1832,
na expedição da marinha britânica
a bordo do veleiro HMS Beagle. O que poucos
têm conhecimento é que o Arquipélago
de Abrolhos, na Bahia, também esteve
na rota do então jovem naturalista
que, mais tarde, convenceria a comunidade
científica da teoria da evolução
e da adaptação das espécies
aos ambientes naturais.
Pois foi em 29 de março
de 1832 que ele registrou suas impressões
sobre o local que você agora pode ajudar
a ter uma proteção mais efetiva
por meio da campanha Adote Abrolhos. “As ilhas
dos Abrolhos, vistas de uma certa distância,
são de um verde brilhante. A vegetação
consiste de plantas suculentas e gramina,
entremeadas com alguns arbustos e cactos.
Embora pequena, a coleção de
plantas de Abrolhos contém quase todas
as espécies que ali florescem. Pássaros
da família dos totipalmados são
extremamente abundantes, tais como atobás,
rabos-de-palha e fragatas. Talvez o mais surpreendente
seja o número de sáurios; quase
todas as pedras têm o seu lagarto correspondente;
aranhas em grande número; o mesmo com
ratos. O fundo do mar em volta é densamente
coberto por enormes corais cerebriformes;
muitos tinham mais de uma jarda (90 cm) de
diâmetro".
O relato está no
livro “Aventuras e Descobertas de Darwin a
bordo do Beagle”, de Richard Keynes, bisneto
de Darwin. A obra reúne correspondências,
diários, registros avulsos e até
desenhos e pinturas do naturalista, mas também
de outros viajantes do HMS Beagle, sobre aquela
que talvez seja a mais importante aventura
científica da era moderna. A viagem
durou cinco anos e incluiu praticamente toda
a costa da América do Sul, da Bahia
ao Arquipélago de Galápagos,
no Equador, com paradas no Uruguai, Argentina,
Chile e Peru.
Apesar do principal objetivo
da expedição ter sido a produção
cartográfica do continente, ela abriu
caminho para a obra que é paradigma
central na explicação de vários
fenômenos na Biologia. E os tesouros
da Região dos Abrolhos, a maior biodiversidade
marinha de todo o Atlântico Sul, contribuíram
para escrever esse capítulo da Ciência.