Andreia Verdélio
- Agência Brasil26.02.2014
- 17h27 | O Ministério das Relações
Exteriores promoveu hoje (26) uma reunião
entre entidades da sociedade civil e autoridades
governamentais que preparam o país
para a Conferência das Partes de Lima
(COP-20) da Convenção-Quadro
das Nações Unidas (ONU) sobre
Mudança do Clima. O objetivo é
recolher informações e contribuições
dos movimentos sociais, setor privado, academia
e representantes da sociedade interessados
no clima, de forma a obter subsídios
para elaboração da posição
do governo brasileiro, em preparação
à próxima rodada de negociações.
A COP-20 está marcada
para dezembro deste ano, na capital do Peru,
e é considerada uma conferência
de transição, assim como foi
a COP-19, em Varsóvia, em preparação
para a COP-21 de Paris, em 2015, cujo objetivo
é alcançar um acordo internacional
efetivo sobre o clima. “É uma conferência
global com interesses não só
nacionais, mas regionais, setoriais e econômicos.
Estamos falando de uma convenção
que é transversal em matéria
de impactos na sociedade e isso justifica
também uma posição brasileira
que seja representativa”, disse o embaixador
Everton Lucero, chefe da divisão de
Clima, Ozônio e Segurança Química
do Itamaraty.
De acordo com o diplomata,
a estratégia dos países para
evitar um novo fracasso nas negociações
sobre mudanças climáticas é
ampliar o período de negociação.
“Para que não haja uma grande frustração
como foi a conferência em Copenhague,
em que se criou uma grande expectativa de
que ela resolveria definitivamente a questão
das mudanças climáticas, houve
um entendimento de que, para Paris, deveria
haver um processo negociador maior”, disse
o embaixador.
Para Carlos Rittl, secretário-executivo
do Observatório do Clima, uma rede
de organizações não governamentais
que atuam no debate das mudanças climáticas,
é preciso também que o governo
brasileiro coloque na mesa os seus números,
como compromissos e metas. “É preciso
que o governo esteja preparado, de acordo
com sua responsabilidade, capacidade e direito
de desenvolvimento, para assumir compromissos.
Que leve em consideração a responsabilidade
histórica [dos países que mais
emitiram gases de efeito estufa], mas não
se restrinja a isso.”
O diretor de políticas
públicas do Greenpeace, Sérgio
Leitão, diz que, desde a ECO-92, a
conferência climática da ONU
ocorrida no Rio de Janeiro e que deu origem
à Convenção sobre o Clima,
o país avançou pouco em políticas
setoriais. Por isso, defendeu que o "sentido
de urgência" da questão
seja reativado. “O senso de urgência
às vezes nos parece que fica imunizado,
como uma espécie de homenagem a esse
processo que, ao final de 20 anos, nos caberia
perguntar: em que avançamos? O que
temos de resultado concreto para que a gente
possa imaginar que podemos ficar tranquilos
em relação a todo esse período
decorrido desde a ECO-92?”
O catador de material reciclável,
Ronei Alves da Silva, do Movimento Nacional
de Catadores, também presente ao encontro,
cobrou a execução da Política
Nacional de Resíduos Sólidos,
sancionada em 2010, para evitar que empresas
de incineração se instalem no
país. “A capital do país tem
o maior lixão a céu aberto da
América Latina, com uma grande produção
de gás metano, e nada foi feito. Com
os incineradores, vai se criar um problema
maior ainda, e é preciso que o governo
se posicione contra”, disse Ronei.
Editor: Davi Oliveira