21/03/2014 06h39Rio de Janeiro
Nielmar de Oliveira
Edição: Graça Adjuto
Sistema Cantareira
A captação de água do
Paraíba do Sul foi apresentada pelo
governo de SP como alternativa à baixa
vazão do Sistema Cantareira
Sabesp/Divulgação
A disponibilidade hídrica da Bacia
do Rio Paraíba do Sul está longe
de ser confortável. Antes de pensar
em desviar água do manancial para o
estado de São Paulo, o Rio de Janeiro
tem que encontrar soluções que
façam frente às projeções
de expansão da demanda no próprio
estado, que deverá crescer cerca de
40% em menos de 20 anos, mostra o Plano Estadual
de Recursos Hídricos feito pelo Instituto
Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação
e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal
do Rio (Coppe-UFRJ). O plano foi feito a pedido
da Federação das Indústrias
do Estado (Firjan), com o objetivo de avaliar
a situação de abastecimento
de água a médio e longo prazos.
Foi o que disse à
Agência Brasil o gerente de Meio Ambiente
da Firjan, Luiz Augusto Azevedo, em resposta
à posição do governador
paulista, Geraldo Alckmin, que apresentou
como alternativa à baixa vazão
do Sistema Cantareira a possibilidade de captar
água do Rio Paraíba do Sul,
que nasce naquele estado, para abastecer a
Grande São Paulo.
Segundo Azevedo, a proposta
do governador paulista é parte de um
estudo contratado pelo governo de São
Paulo em 2008, divulgado em 2010, que aponta
nove alternativas para o abastecimento de
água em São Paulo. Duas dessas
propostas envolvem a captação
de água do Paraíba do Sul.
“É importante deixar
claro que, ao contrário do que a maioria
acha, a disponibilidade hídrica da
bacia do rio está longe de ser confortável.
A gente já tem hoje, em diversos trechos,
regiões onde, principalmente na época
de seca, a disponibilidade hídrica
é reduzida drasticamente tanto no estado
do Rio quanto em algumas cidades de São
Paulo”.
O ambientalista da Firjan
cita, particularmente, a região de
São José dos Campos e o Vale
do Paraíba, na região de Barra
do Pirai, onde a vazão do rio cai drasticamente,
de tal forma que na época de seca fica
difícil até tratar a água.
“Na Foz do Paraíba
do Sul, na região de Atafona, em Campos,
uma pressão muito grande da água
do mar entrando, em função da
baixa vazão do rio, chega a inviabilizar
a irrigação da agricultura e
criação de animais em uma extensão
muito grande por causa da salinização
da água”, lembra.
Na avaliação
do gerente de Meio Ambiente da Firjan, hoje
qualquer retirada de água do Paraíba
do Sul vai necessariamente afetar a operação
dos reservatórios existentes ao longo
do rio – estejam eles ligados ou não
às usinas de geração
de energia elétrica.
“E esses reservatórios
têm um papel importante na regularização
do fluxo da água para o controle das
cheias. Então é possível
que, mexendo nessa vazão, a gente perca
a capacidade de controle da situação
e fique mais exposto a eventos extremos: a
seca em períodos de seca, a enchentes
em períodos chuvoso, sem contar que
essa operação influencia diretamente
a geração de energia elétrica
- e a gente tem problemas de energia, o que
pode agravar ainda mais a situação”.
Azevedo lembra ainda que
o estudo do governo de São Paulo traça
um cenário até 2035, enquanto
o do Rio de Janeiro procurou comparar esse
estudo com o Plano Estadual de Recursos Hídricos
feito pela Coppe e que projeta o cenário
para um horizonte até 2030. “E aí
a situação fica ainda mais complicada
porque, com a demanda por água no estado
do Rio até 2030 aumentando cerca de
40% em menos de 20 anos, nós não
teríamos alternativas de abastecimento”.
O ambientalista da Firjan
destaca que o estudo paulista mostra nove
alternativas e sete delas não envolvem
o Paraíba do Sul. "Nós
não temos alternativa ao Paraíba
do Sul. Ele é o único manancial
com capacidade suficiente para abastecer a
população e prover as outras
necessidades do estado. Não temos de
onde tirar água se não for do
Paraíba do Sul e aí você
pode ver a nossa preocupação.
Enquanto São Paulo tem, repito, sete
alternativas que não a do Paraíba
do Sul”. Para Azevedo, são impraticáveis
as pretensões do governo Alkimin de
desviar água do Paraíba do Sul
para o Sistema Cantareira”.
Em sua opinião, antes
de falar em obras para desviar a água
do Paraíba do Sul é necessário
tentar compatibilizar o estudo de São
Paulo como o de Visão de Futuro, elaborado
a pedido da entidade: “Tentar encaixar as
duas coisas e ver se continua fazendo sentido
essa proposta do Alkimin, ponderados todos
os problemas decorrentes”.
Embora o estudo elaborado
pela Coppe ainda não apresente alternativas
para a situação do Rio, em face
das projeções do crescimento
da demanda por água, as alternativas
que se apresentam vão desde a redução
de perdas à otimização
dos processos. “O estudo que foi feito pela
Coppe não se aprofunda nesses aspectos
e não sei dizer quais são as
alternativas. Esse é um trabalho que
a gente vai ter que fazer em um futuro próximo.
Mas elas caminham pela otimização,
pela redução dos desperdícios,
economia, pelo reuso da água”.
Para Luiz Augusto Azevedo,
porém, uma necessidade se impõe:
“Há que se encontrar formas de garantir
o atendimento ao aumento da demanda no Rio
e não desviar água para outro
estado - principalmente se esse estado tem
outras alternativas, outras opções,
indicadas pelo próprio estudo que eles
fizeram”.