São Félix
do Xingu (10/11/2010) – Uma operação envolvendo
Ibama, Polícia Federal e Fundação
Nacional do Índio (Funai), com apoio do Exército
e da Força Nacional, desmontou um garimpo de ouro
dentro da Terra Indígena Kayapó, a 160 km
de Redenção, no sul do Pará. Durante
a ação, batizada de Operação
Bateia, entre os dias 19 e 21/10, cerca de 300 pessoas
– entre elas mulheres e crianças – foram retiradas
dos limites da área protegida, com apoio de um
helicóptero militar, e conduzidas a Redenção
e Cumaru do Norte.
Há suspeitas de
que o garimpo vinha contaminando com mercúrio os
rios da região, principalmente o rio Fresco, um
dos afluentes do Xingu. Segundo a Funai, cresceu o número
de reclamações dos índios sobre doenças
associadas à substância em todas as 14 aldeias
kayapó localizadas abaixo da área da extração
ilegal. Peritos da Polícia Federal e da Coordenação
Geral de Emergências Ambientais do Ibama coletaram
amostras da água em 15 pontos do garimpo para medir
o nível de mercúrio. Se confirmada a contaminação,
a área poderá ser isolada até para
os índios.
O garimpo foi tomado sem
resistência na manhã de terça-feira
(19/10). Na área protegida, onde deveria haver
floresta amazônica intocada, os agentes federais
e os militares encontraram 160 hectares de terra arrasada
pela mineração ilegal. Pelo menos 30 minas
foram abertas pelos garimpeiros, deixando para trás
desmatamento, solo exposto e grandes lagoas de água
contaminada.
Aproximadamente 50 das
100 edificações improvisadas – entre cabanas,
vendas e instalações para minerar – , tratores,
caminhões e o sistema de captação
de água foram destruídos pelo Ibama. O setor
especializado da Polícia Federal destruiu com explosivos
uma pista de pouso de 440 metros de extensão que
era um dos acessos dos garimpeiros à terra indígena,
além de 40 dragas e um grupo gerador de 25 kwa.
Cinco espingardas e 6 kg de mercúrio também
foram apreendidos. Ações periódicas
de monitoramento serão realizadas pela PF, Funai
e Ibama para impedir o retorno dos garimpeiros à
reserva kayapó.
Histórico
Apesar da entrada de não índios na reserva
ser proibida, os garimpeiros invadiram e instalaram diversos
acampamentos e alguns viviam até com a família
na terra dos kayapós. Cerca de cem barracos de
madeira e palha se espalhavam pelo local, que contava
com vendas, pista de pouso, central de comunicação
por rádio, luz elétrica e cinco antenas
parabólicas. Mas a vida no local era dura: um refrigerante
chegava a custar R$ 20 e muitos trabalhavam apenas para
pagar as despesas no comércio local. Quando os
agentes federais destruíram as cadernetas em que
eram anotadas as dívidas, muitos comemoraram.
De acordo com estimativas, o garimpo podia faturar até
R$ 3 milhões mensais. A mineração
em terras indígenas só pode ocorrer com
a aprovação do Congresso Nacional. Segundo
a Polícia Federal, todos os envolvidos serão
indiciados e poderão ser presos ao final do processo.
Os garimpeiros surpreendidos na Terra Kayapó tiveram
que deixar o local, levando apenas o que podiam carregar.
Participaram
da Operação Bateia: Divisão de Proteção
Ambiental do Ibama, Coordenação Geral de
Defesa Institucional e o Comando Operacional Tático
(COT) do Departamento de Polícia Federal, a Diretoria
de Proteção Territorial da Funai, a Força
Nacional e o 4° Batalhão de Aviação
do Exército de Manaus.
Nelson Feitosa