Sinop (27/03/2012) – Uma
única madeireira, com endereço fictício
numa sala comercial de 250 m² em Sinop, utilizou
Guias Florestais fraudadas para legalizar mais de 29,8
mil m³ de madeira de desmatamento ou extraída
irregularmente de florestas em diversos municípios
no norte do Mato Grosso, como Feliz Natal, Cláudia,
Alta Floresta, Marcelândia, Vera e Cotriguaçu.
Esse volume equivale a cerca de 1.200 caminhões
cheios.
Depois de desvendar o
esquema, que pode ter movimentado em torno de R$ 9 milhões
em transações com as guias ideologicamente
falsas, o Ibama embargou a empresa, nesta quinta-feira
(22/03), e multou seu responsável legal em R$ 8
milhões por vender madeira nativa com documentação
fraudada e em R$ 300 mil por inserir dados falsos nos
sistemas de controle ambiental do país.
Há 15 meses a madeireira de Sinop "esquentava"
os produtos florestais ilegais, desde dezembro de 2010
até a semana passada, quando teve seu acesso ao
Sisflora (o sistema estadual que controla o comércio
de produtos florestais no Mato Grosso) bloqueado pelos
agentes do Ibama na operação Verdes Veredas.
Segundo estimativas do instituto, a fraude foi responsável
pelo dano ou destruição de aproximadamente
três mil hectares de florestas nativas no Mato Grosso.
“Ninguém explora madeira e destrói florestas
se não pode vender o produto. Sem esses documentos
fraudados acobertando o negócio escuso muitas florestas
ainda estariam íntegras”, afirma o chefe da Divisão
de Fiscalização do Ibama em Sinop, Werikson
Trigueiro.
Rota fantástica
O Ibama auditava transações no Sisflora
ao suspeitar da movimentação de Guias Florestais
emitidas a partir da conta da madeireira de Sinop. A empresa
fazia a chamada “venda inversa”, ou seja, supostamente
enviava grandes volumes de toras para empresas localizadas
nos maiores pólos madeireiros do norte mato-grossense,
o que não faz sentido. Em uma das transações,
teria vendido 40 toras de angelim-pedra para uma serraria
em Cotriguaçu, município rico em madeira
no noroeste do estado. Na verdade, a empresa negociava
apenas o papel que acobertava a madeira extraída
irregularmente nas florestas da região dos seus
clientes.
“Quando o negócio é real e legal, as toras
saem de onde há florestas, com planos de manejo
sustentáveis autorizados, para um lugar onde florestas
são escassas. Não se justifica a venda no
sentido inverso. De Sinop para Cotriguaçu, por
exemplo, é economicamente inviável, pois
há cerca de 570 km de distância a ser percorrido
entre as cidades e por estradas em péssimas condições”,
explica Werikson, acrescentando que vai requerer à
Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso o estorno do
Sisflora de todos os créditos de madeira negociados
pela empresa fantasma.
Verdes Veredas
Desde o início do ano, o Ibama combate com a operação
Verdes Veredas o desmatamento ilegal da Amazônia
no norte do Mato Grosso. A região fica na fronteira
agrícola do estado e lidera os índices de
desflorestamento do bioma. O instituto já aplicou
cerca de R$ 52 milhões em multas, embargou 19 propriedades
que, juntas, somam três mil hectares de áreas
ilegalmente desmatadas e apreendeu 30 tratores, sete caminhões,
um carro de passeio e seis motosserras.
Nelson Feitosa
Ascom - Ibama/PA
Foto: Nelson Feitosa