11/09/2025
– Os "mares leitosos" são
um fenômeno oceânico raro e impressionante,
em que grandes áreas do mar brilham devido
à bioluminescência. Relatado por marinheiros
há mais de 400 anos, esse brilho pode se
estender por quilômetros, como descrito por
um oficial em 1967 no Mar da Arábia. Cientistas
estão estudando esse fenômeno para
prever sua ocorrência e entender melhor como
ele acontece.
Cerca
de dez anos após um relato anterior, a tripulação
do navio MV Westmorland também presenciou
um fenômeno de "mar leitoso" no
Mar da Arábia. Em 1976, o capitão
P. W. Price descreveu o mar como intensamente iluminado
por um verde brilhante, a ponto de esconder o contorno
das ondas, fazendo-o parecer uma superfície
plana e uniforme.
Os "mares
leitosos" são difíceis de estudar
por serem raros e ocorrerem em áreas remotas
do oceano. No entanto, cientistas estão se
aproximando da possibilidade de prever esses eventos.
Justin Hudson, doutorando na Colorado State University,
criou um banco de dados com mais de 400 relatos
de mares leitosos, incluindo os de Brunskill e Price.
Esse esforço pode futuramente permitir que
embarcações científicas sejam
posicionadas no local certo para estudar o fenômeno
em tempo real.
Hudson,
autor da nova pesquisa sobre "mares leitosos",
espera que seu banco de dados incentive mais estudos
sobre esse fenômeno misterioso. Segundo ele,
entender melhor os mares leitosos pode revelar por
que eles ocorrem e o que significam para a vida
marinha. Eles podem indicar tanto ecossistemas saudáveis
quanto desequilibrados — algo que ainda não
se sabe. Com a previsão de quando e onde
esses eventos acontecem, será possível
entender melhor seu papel no sistema terrestre global.
Os mares
leitosos são descritos como tendo um brilho
semelhante ao de estrelas que brilham no escuro,
como as usadas em quartos infantis. Esse brilho
já foi considerado tão intenso que
permitiria a leitura no mar à noite. Os eventos
podem durar meses e cobrir áreas imensas,
chegando a 100 mil km², sendo até detectados
do espaço. A principal hipótese é
que o fenômeno seja causado por grandes concentrações
de bactérias bioluminescentes microscópicas
chamadas Vibrio harveyi.
A principal
teoria sobre os mares leitosos surgiu após
um encontro acidental em 1985, quando uma amostra
de água foi coletada durante um desses eventos.
Ainda assim, as condições que causam
o brilho oceânico permanecem pouco compreendidas.
O Dr. Steven Miller, que estuda o fenômeno
há décadas, mostrou em 2021 que os
maiores mares leitosos podem ser detectados por
satélites. Ao reunir registros históricos
e imagens de satélite, os pesquisadores identificaram
padrões: esses eventos ocorrem principalmente
no Mar da Arábia e no Sudeste Asiático,
e podem estar ligados a fenômenos climáticos
globais, como o Dipolo do Oceano Índico e
o El Niño-Oscilação Sul.
Os mares
leitosos ocorrem com mais frequência em regiões
onde há ressurgência oceânica
— um processo em que águas frias e
ricas em nutrientes sobem à superfície
devido a ventos fortes. Nessas áreas, estima-se
que ocorra cerca de um evento por ano. Embora essas
regiões favoreçam intensa atividade
biológica, Hudson ressalta que ainda não
se sabe por que apenas algumas delas apresentam
o fenômeno, já que outras com características
semelhantes não o registram.
Os mares
leitosos se diferenciam de outros eventos bioluminescentes
comuns no oceano, que são causados por dinoflagelados
— fitoplânctons que emitem luz azulada
quando perturbados. Já nos mares leitosos,
o brilho é constante e não depende
de movimento. Segundo os pesquisadores, as bactérias
responsáveis por esse fenômeno brilham
para atrair peixes, que as ingerem, permitindo que
elas sobrevivam e se multipliquem no trato digestivo
desses animais.
Cientistas
como Steven Miller e a oceanógrafa Edith
Widder sonham em presenciar pessoalmente um mar
leitoso, apesar de suas extensas carreiras estudando
bioluminescência. Widder, que já observou
muitos espetáculos luminosos no oceano, nunca
viu esse fenômeno específico. Ela acredita
que o novo banco de dados criado pelos autores do
estudo aumenta as chances de prever quando e onde
esses eventos raros podem acontecer.
Widder,
CEO e cientista sênior da Ocean Research &
Conservation Association, levanta questões
sobre o impacto dos mares leitosos em outras formas
de vida marinha, especialmente nos animais que sobem
à superfície apenas no escuro para
se alimentar. Segundo ela, a luz influencia profundamente
o comportamento e a distribuição das
espécies no oceano, e a bioluminescência
intensa desses eventos pode afetar esse equilíbrio,
além de ter implicações no
ciclo do carbono. Widder destaca que este é
um experimento natural com grande potencial científico.
Tentativas anteriores de criar bancos de dados sobre
o fenômeno foram perdidas, o que torna o novo
banco ainda mais valioso.
A criação
de uma nova base de dados sobre os mares leitosos
marca um avanço significativo no entendimento
de onde e quando esses eventos ocorrem, segundo
Miller. Ela destaca que a resposta dramática
das populações bacterianas durante
esses fenômenos era inesperada. No entanto,
muitas questões permanecem sem resposta,
como os efeitos das mudanças climáticas
sobre a ocorrência desses eventos e suas implicações
para o ecossistema marinho. Miller enfatiza a importância
de entender como esse fenômeno afeta a cadeia
alimentar oceânica, pois alterações
nessa cadeia podem impactar diversas espécies
marinhas.
Da Redação,
com informações de agências
internacionais
Fotos: Reprodução/Pixabay
Matéria elaborada com auxílio de Inteligência
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