| 13/11/2025
– Um estudo do Instituto de Biociências
da USP, em parceria com a Universidade Ahmadu Bello
(Nigéria), revelou que analgésicos
como diclofenaco, ibuprofeno e paracetamol ameaçam
o fitoplâncton — algas microscópicas
que são a base da cadeia alimentar aquática.
A pesquisa mostrou que mesmo em baixas concentrações,
esses medicamentos afetam a fisiologia e a dinâmica
populacional dessas algas, reduzindo a biodiversidade.
Espécies com menor capacidade de adaptação,
como o gênero Actinastrum, correm risco de
extinção local.
A descoberta
levanta sérias preocupações
sobre o impacto dos analgésicos na vida marinha,
já que o fitoplâncton é essencial
para a transferência de nutrientes na cadeia
alimentar aquática. Segundo Mathias Ahii
Chia, coautor do estudo e professor do Instituto
de Biociências da USP, os efeitos vão
além do ambiente aquático: o fitoplâncton
produz metade do oxigênio do planeta e ajuda
a absorver carbono da atmosfera. Sua ameaça
compromete a produção primária,
o equilíbrio dos ecossistemas e até
a sobrevivência humana.
Parte
dos medicamentos que consumimos é eliminada
pelo organismo e pode acabar no meio ambiente, especialmente
quando não há tratamento adequado
do esgoto. Mesmo em sistemas de tratamento, compostos
como diclofenaco, ibuprofeno e paracetamol não
são totalmente removidos. Segundo Ramatu
Idris Sha’aba, da Universidade Ahmadu Bello,
esses fármacos foram escolhidos para o estudo
por serem amplamente usados e quimicamente estáveis,
com alta resistência à biodegradação.
Como resultado, eles persistem nas águas
superficiais, agravando a contaminação
ambiental.
O estudo
concluiu que esses analgésicos causam estresse
oxidativo no fitoplâncton, reduzindo sua biodiversidade
e alterando sua estrutura. O problema é agravado
pelo uso crescente desses medicamentos e pela presença
de antibióticos na agricultura, pecuária
e indústrias, aumentando a diversidade de
contaminantes na água. Por isso, Chia defende
a análise combinada de fármacos, já
que no ambiente eles não aparecem isoladamente,
ao contrário do que ocorre na maioria dos
estudos.
Os experimentos
foram realizados com comunidades de fitoplâncton
do norte da Nigéria, em Zaria, utilizando
mesocosmos — sistemas externos que simulam
ecossistemas naturais de forma controlada. Para
evitar as limitações do ambiente de
laboratório, os pesquisadores instalaram
24 mesocosmos em um lago da universidade. Cada um
foi montado com cestas plásticas forradas
com sacos de polietileno, flutuadores e cerca de
4 litros de água coletada de um lago de oxidação
de esgoto, preservando as condições
naturais do ambiente aquático.
Os pesquisadores
calcularam cuidadosamente a dosagem ideal de medicamentos
para os testes, que duraram 28 dias. A escolha pelos
mesocosmos visou manter condições
ambientais naturais, evitando alterações
que um laboratório poderia causar, como mudanças
na temperatura ou na composição dos
fármacos. O estudo analisou variações
em compostos essenciais (proteínas, carboidratos
e lipídios), atividades enzimáticas
e sinais de estresse adaptativo. Os resultados mostraram
que diferentes espécies de fitoplâncton
reagem de forma variada: algumas toleram os medicamentos
até certo ponto, enquanto outras não
resistem e desaparecem.
Embora
o estudo tenha comprovado danos ao fitoplâncton,
ainda não se sabe exatamente quais mecanismos
são afetados. Os pesquisadores identificaram
impacto na produção de pigmentos,
mas sem compreender as causas — tema que será
explorado em estudos futuros. A pesquisa reforça
o papel do fitoplâncton como bioindicador
ambiental: sua ausência ou alteração
sinaliza desequilíbrios no ecossistema.
Da Redação,
com informações de agências
de notícias
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay
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