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                                    HOMOLOGAÇÃO 
                                      DE TI GUARANI KAIOWÁ IMPEDE DESPEJO 
                                      IMINENTE 
                                    Panorama 
                                      Ambiental 
                                      Brasília (DF) – Brasil 
                                      Março de 2005 
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                             30/03/2005 Governo 
                              Federal publica decreto dando posse permanente de 
                              território à comunidade indígena 
                              do Mato Grosso do Sul na mesma semana em que terminaria 
                              a suspensão da liminar que determinou a expulsão 
                              dos índios da área por eles reivindicada.
                              Um gol aos 45 minutos do segundo tempo garantiu 
                              muito mais que um título de campeonato. Este 
                              é o efeito do decreto do governo federal, 
                              publicado na segunda-feira 28 de março, pelo 
                              qual homologa a Terra Indígena (TI) Ñande 
                              Ru Marangatu, do povo Guarani Kaiowá, no 
                              município de Antônio João, no 
                              extremo sudoeste do estado do Mato Grosso do Sul. 
                              A homologação da TI acabou com a ameaça 
                              de despejo iminente que pairava sobre os mais de 
                              500 indígenas que vivem na área. Nos 
                              últimos dias, a possibilidade de serem expulsos 
                              se confirmara com a presença de mais de 300 
                              policiais federais nas cercanias da terra que disputam 
                              com fazendeiros.
                              O despejo dos Guarani Kaiowá havia sido determinado 
                              em liminar concedida aos fazendeiros da região 
                              pela Justiça Federal da 1º Vara de Ponta 
                              Porã (MS). Contudo, um recurso do Ministério 
                              Público Federal contestando a decisão 
                              foi aceito pelo Tribunal Regional Federal da 3º 
                              Região que, em determinação 
                              publicada no começo deste mês de março, 
                              suspendeu a liminar da 1ª Vara de Ponta Porã 
                              até o dia 31 de março. Em sua decisão, 
                              a desembargadora federal Anna Maria Pimentel afirma 
                              que a ampliação do prazo para a entrada 
                              em vigor da liminar visa possibilitar ao governo 
                              federal se posicionar a respeito do conflito fundiário 
                              em questão. Com a publicação 
                              do decreto de homologação, os Guarani 
                              Kaiowá recebem a posse permanente da área 
                              em disputa. Com esta, o número de TIs homologadas 
                              no País chega a 64, num total de 7.198.534 
                              hectares. Veja aqui a situação das 
                              terras indígenas no Brasil.
                              A homologação da Terra Indígena 
                              Ñande Ru Marangatu, com área de 9.317 
                              hectares, encerra este processo de reivindicação 
                              por parte dos Guarani Kaiowá, que estão 
                              batalhando pelo reconhecimento de mais de 20 territórios 
                              no Mato Grosso do Sul. A reivindicação 
                              pela TI Ñande Ru Marangatu se acentuou em 
                              1995, quando os primeiros representantes dos índios 
                              entraram na área afirmando tratar-se de território 
                              tradicionalmente habitado por seus antepassados. 
                              Em 1998, algumas famílias indígenas 
                              se instalaram em uma das fazendas que estavam dentro 
                              da área requerida, de propriedade do então 
                              prefeito de Antônio João, Dácio 
                              Queiroz. Os índios afirmavam, na ocasião, 
                              que o prefeito estava extraindo madeira da propriedade 
                              de forma ilegal. 
                              Em 2001, a Fundação Nacional do Índio 
                              (Funai) deu início ao trabalho de demarcação 
                              da TI Ñande Ru Marangatu, concluído 
                              apenas em outubro de 2004. O relatório antropológico 
                              realizado pela Funai para a demarcação 
                              apontou a existência de dez fazendas dentro 
                              do território indígena, todas com 
                              grande número de benfeitorias, além 
                              de 65 pequenos lotes habitados por trabalhadores 
                              rurais. Até outubro do ano passado, os Guarani 
                              Kaiowá viviam em 26 hectares e a partir da 
                              conclusão da demarcação, passaram 
                              a ocupar 500 hectares, esperando pela homologação 
                              para tomar posse dos mais de 9 mil hectares que 
                              lhes pertencem.
                            Vitória 
                              do movimento indígena do MS
                            Durante todos estes 
                              anos, os conflitos entre fazendeiros e indígenas 
                              se acentuaram em todo a região sul do Mato 
                              Grosso do Sul, com várias ações 
                              judiciais, agressões e assassinatos. O antropólogo 
                              Rubens Thomaz de Almeida, responsável pelo 
                              estudo de identificação da TI Ñande 
                              Ru Marangatu para a Funai, lembra do assassinato, 
                              em janeiro de 2003, de um antigo líder Guarani 
                              Kaiowá do estado, Marcos Verón, de 
                              72 anos, que foi espancado até a morte diante 
                              de sua família ao resistir a uma tentativa 
                              de expulsão. 
                              Para o antropólogo, a homologação 
                              da TI é uma vitória do movimento político 
                              indígena do estado. Com efeito, há 
                              duas semanas um encontro entre lideranças 
                              de mais de 20 aldeias Guarani Kaiowá do Mato 
                              Grosso do Sul produziu uma carta de reivindicação 
                              ao presidente Lula pedindo a homologação 
                              imediata da TI Ñande Ru Marangatu. "Quando 
                              cheguei na região, no começo dos anos 
                              1970, os Guarani Kaiowá pareciam estar caminhando 
                              para uma extinção inexorável", 
                              recorda Rubens Almeida. "Hoje estão 
                              mobilizados e reivindicam mais de 20 territórios 
                              em todo o estado". 
                              Almeida ressalva, contudo, que a homologação 
                              desta semana não pode ser vista como uma 
                              conquista definitiva. "Ainda existem graves 
                              conflitos fundiários em curso no Mato Grosso 
                              do Sul entre os Guarani Kaiowá e grandes 
                              fazendeiros". A falta de terra para os índios 
                              no estado é, de acordo vários antropólogos 
                              e indigenistas, um dos principais fatores para explicar 
                              a série de mortes de crianças registrada 
                              este ano, decorrentes de desnutrição 
                              crônica. Saiba mais sobre os Guarani Kaiowá.
                            Fonte: ISA – Instituto Socioambiental 
                              (www.socioambiental.org.br)
                              Assessoria de imprensa (Bruno Weis)