Reserva indígena
no Pará era alvo de madeireiros. Devastação
chega a 80 mil ha de floresta
Paulenir Constancio e
Christian Dietrich - Minc comanda Operação
Caapora - Nova Esperança do Piriá (08/04/2009)
Um município de 32 mil habitantes onde a atividade
econômica principal era o crime ambiental. Foi esse
o cenário que a Força Nacional, a Polícia
Rodoviária Federal, a Polícia Militar Ambiental
e o Ibama e Funai encontraram na megaoperação
realizada hoje, em Nova Esperança do Piriá,
que fica a duzentos metros da reserva indígena
do Alto do Rio Guamã, no norte do Pará.
Treze serrarias instaladas no local arrasaram 80 mil dos
250 mil hectares que compõem a área indígena,
aterraram o rio e mantiveram trabalhadores em situação
semelhante ao trabalho escravo. Cerca de 200 fornos de
carvão foram destruídos e foi apreendida
madeira suficiente para encher 400 caminhões, avaliada
em R$6 milhões.
A operação
foi comandada pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Os proprietários não estavam no local, mas
computadores e anotações foram recolhidos
e pelo menos 10 pessoas poderão ser indiciadas.
O material apreendido poderá resultar, também,
no indiciamento de quem encomendou a madeira. Segundo
o ministro, “eles vão responder como receptadores
de madeira ilegal”.
Minc, que já acompanhou
18 operações do Ibama desde que assumiu
a pasta do Meio Ambiente, considerou o quadro estarrecedor.
“Uma cidadezinha inteira na ilegalidade. A área
indígena está muito degradada”, disse. O
governo federal, em parceria com o municipal e o estadual,
vai precisar de 30 dias para concluir a operação.
Até agora sete serrarias foram embargadas e foram
apreendidos 2023 m³ de madeira em toras e 200 m³
de madeira serrada, seis tratores, dois caminhões,
vários motores de serras, além de armas
e munições. Nos próximos dias, as
demais serão fechadas. Segundo o ministro, nenhuma
delas possui plano de manejo, pré-requisito para
o licenciamento ambiental.
O ministro acompanhou
o desmonte de uma serraria ilegal, destruiu uma bateria
de fornos de carvão e lacrou os equipamentos de
uma serraria embargada por falta de documentação
e multada em R$ 1 milhão. Na empresa, a serragem
era jogada em área de preservação
permanente, à beira de um igarapé. “Acabou
a moleza! Os criminosos não vão mais enriquecer
com o produto do crime ambiental”, afirmou Minc.
Parte da madeira apreendida,
entre as quais espécies nobres como a maçaranduba,
vai a leilão, e a outra será doada para
ser usada pelo município na construção
de pontes, casas populares e escolas, “para empregar as
pessoas que perderam o trabalho”. O dinheiro arrecadado
com o leilão será aplicado em projetos de
preservação ambiental do próprio
estado do Pará e do governo federal. Minc pediu
à governadora do estado, Ana Júlia Carepa,
que responde por 45% do Amazônia, a instalação
de postos avançados da Secretaria Estadual de Meio
Ambiente em Marabá e Itaituba, áreas identificadas
como alvo preferencial dos desmatadores.
A operação
conta com o apoio do prefeito de Nova Esperança,
Antônio Nilson de Albuquerque. Ele vinha recebendo
reclamações da população local,
que saltou de 12 para 32 mil habitantes nos últimos
quatro anos. As queixas dos trabalhadores incluíam
falta de registro profissional, pagamentos por diária
abaixo do valor de mercado e condições de
trabalho semelhantes ao trabalho escravo.
O fechamento das serrarias
ilegais atinge 1700 trabalhadores, segundo estimativas
da prefeitura. Eles serão beneficiados com cestas
básicas em caráter emergencial. Segundo
o ministro, a assistência é necessária,
pois “eles não têm de onde tirar o sustento”.
Nova Esperança será incluída agora
na Operação Arco Verde, que prevê
assistência técnica e financeira aos municípios
campeões de desmatamento que se comprometam a recuperar
áreas degradadas.
Em
sobrevôo de monitoramento, as equipes encontraram
áreas com plantações de maconha e
exploração ilegal de madeira na área
de entorno e no interior da reserva indígena. Também
foram localizadas outras duas serrarias ilegais em pleno
funcionamento na área de entorno da unidade. Todas
as áreas serão fiscalizadas em breve.
Ascom MMA
Ascom Ibama