Brasília (17/08/2010)
- O tiro que matou uma onça com coleira de monitoramento,
no pantanal, levou o Ibama e a Polícia Federal
a desmontar uma quadrilha organizadora de safári
de caça ilegal de fauna silvestre brasileira, na
Operação Jaguar. A prisão de quatro
argentinos, um paraguaio e três brasileiros, em
plena atividade de caça em Sinop-MT, foi notícia
em todo o país. Mas, poucos conheceram o bastidor.
A investigação
começou um ano e dois meses atrás. De Cascavel,
no Paraná, Eliseu Augusto Sicoli, identificado
pela Polícia Federal como o chefe da quadrilha,
passou a ter suas conversas telefônicas monitorados
com autorização da Justiça. Nas transcrições,
há relatos de abate de 28 onças no Brasil,
de caçadas de tigre, zebra e elefante, na África,
e de 800 patos, na Argentina.
Dois fiscais do Ibama
e dois agentes da PF de Corumbá, que trabalharam
em sintonia, com troca diária de informações
e planejamentos, foram os responsáveis pela montagem
do quebra-cabeça que resultou na prisão
de 11 pessoas, entre elas os caçadores, um taxidermista
e um cabo da Polícia Militar de Rondonópolis.
O chefe do escritório
do Ibama de Corumbá (MS), Gilberto Alves da Costa,
um dos “quatro cavaleiros” da Operação Jaguar,
ao lado do fiscal Ademir Ribeiro e dos agentes da PF Mercês
Dias Junior e André Magalhães, conta que
Eliseu não mencionava abertamente a caça
de onças nos telefonemas. Falava de forma cifrada.
Numa das conversas gravadas,
Eliseu perguntava ao interlocutor se estava saindo “boi”
daquela fazenda ou se tinha visto algum “carneiro grande,
pintado”. E também apareceu avisando que, em determinado
fim de semana, iriam chegar os guarda-chuvas (armas).
Em outro conversa, o organizador
do “safári” referia-se à localização
de um “corixo” e de uma “salina”, que Gilberto, um conhecedor
do pantanal e do linguajar da região, traduziu
como córrego intermitente e uma baía com
alta porcentagem de cloreto de sódio cercada de
babaçu, áreas procuradas pelos animais,
incluindo as onças.
O esquema da caça
ramificava-se por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.
Gilberto e o fiscal Ademir passaram 34 dias mapeando uma
área de 160 mil hectares de maciço florestal
entre Sinop, Itaúba e Santa Helena, na bacia hidrográfica
de Teles Pires no Mato Grosso, depois de interceptadas
conversas sobre possível caçada na região.
Uma das fazendas, cujos
acessos e coordenadas haviam sido levantados pelos fiscais
do Ibama, foi onde ocorreu a prisão dos caçadores,
a apreensão de armas e de oito cães de caça
Fox Hound Americano. O chefe do escritório do Ibama
de Corumbá conta que entre os presos estavam dois
cúmplices de Eliseu: Marcos Antonio Moraes, filho
do homem conhecido em todo o Brasil como o maior caçador
de onças, “Tonho da Onça”, e um oficial
da Polícia Militar, que nas escutas aparecia com
a alcunha de Cabo Lopes.
Prisão
O “safári” em Sinop chegou a ser marcado duas vezes
antes, mas houve cancelamentos. Quando enfim a data foi
definida, em julho, agentes da PF e fiscais do Ibama dividiram-se
entre vigílias no aeroporto, local de desembarque
dos estrangeiros e na rodovia, por onde chegaria Eliseu
de caminhonete com os cães e as armas. Uma das
passagens obrigatórias era uma pista em obras,
que forçava o motorista a trafegar mais devagar.
O fiscal Gilberto estava
no local com um agente da PF, quando avistou uma Ranger
preta passar. Ele havia visto a foto de Eliseu na Revista
Magnum, especializada em armas, o que foi suficiente para
identificá-lo na passagem rumo a um hotel em Sinop.
Os estrangeiros chegaram em vôo noturno.
Somente no dia seguinte,
o grupo foi para o local da caçada. Os agentes
da PF e os fiscais do Ibama permaneceram cinco dias em
vigília próximo à sede da fazenda,
observando e fotografando o grupo até o momento
da prisão. O chefe do escritório do Ibama
em Corumbá se diz indignado com os caçadores
pelo “prazer por matar onças”, animais que aguçam
o apetite do infrator devido à ferocidade.
Sandra Sato
Ascom/Sede