Belém (05/07/2011)
– O Ibama em parceria com a Universidade Estadual Paulista
(Unesp-Botucatu) comprovou cientificamente as fraudes
praticadas por uma empresa na exportação
de barbatanas de tubarão no Pará. Das 152
amostras de barbatanas já analisadas pelos pesquisadores,
31% não correspondiam à espécie declarada,
o que configura crime ambiental. “O índice é
muito alto, pois a legislação exige 100%
de precisão para não por em risco espécies
ameaçadas”, explica o chefe da Divisão de
Fauna do Ibama no estado, Leandro Aranha.
Sediada em Belém, a empresa alvo da pesquisa teve
3,3 toneladas de barbatanas de tubarão apreendidas
em maio de 2010 pelo Ibama. A maioria das apreensões
feitas pelo instituto no Pará ocorre por falta
de comprovação que a carcaça do animal
foi vendida, o que demonstra a prática do finning
(quando o pescador retira as barbatanas e descarta o tubarão
mutilado no mar, o que provoca sua morte lentamente).
Nas fiscalizações,
os técnicos do Ibama ainda suspeitaram dos registros
nos mapas de bordo da empresa, que registravam a pesca
de uma única espécie: o tubarão azul,
o mais abundante na costa brasileira. “Mas já sabíamos
que a pesca indiscriminada, sem atentar para espécies
ameaçadas, era um grande problema no setor”, conta
Aranha. Em novembro de 2010, veterinários do instituto
e pesquisadores do Laboratório de Biologia e Genética
de Peixes da Unesp, do campus Botucatu, recolheram 350
amostras das barbatanas apreendidas e submeteram o material
a exames de DNA.
O objetivo era identificar por técnicas de biologia
molecular as espécies coletadas e confrontar o
dado com o registrado nos mapas de bordo. A pesquisa ainda
está em andamento, mas das 152 amostras analisadas
até agora 31% não conferiram. Além
do tubarão azul, a pesca de mais duas outras espécies
costeiras já está geneticamente comprovada.
“O resultado da pesquisa demonstra que o setor compra
e vende barbatanas de tubarão, independentemente
se a espécie foi pescada por meio da prática
criminosa do finning ou não”, explica Aranha, acrescentando
que o experimento vai fortalecer os processos administrativos
que a empresa responde junto ao Ibama, além dos
movidos pelo judiciário no campo civil e criminal.
Afrodisíaco
O destino principal das barbatanas de tubarão capturadas
nas regiões Norte e Nordeste do Brasil é
o mercado asiático. Entre 70 e 100 milhões
de tubarões são abatidos anualmente no mundo,
segundo estimativas de pesquisadores do setor. Cobiçada
pela indústria cosmética e alimentícia,
a barbatana de tubarão é utilizada na China
para fazer a sopa de barbatana de tubarão, símbolo
de status e considerada afrodisíaca pelos chineses.
“É um uso fútil e desnecessário de
um recurso animal importante para todo o meio ambiente
marinho”, lamenta Aranha.
Nelson Feitosa
Ascom Ibama