Sinop (31/08/2011) – Buscando
coibir a caça e a pesca ilegal dentro da terra
indígena Kapoto-Jarinã, no extremo norte
do Mato Grosso, o Ibama deflagrou no último fim
de semana a operação Txokrãn, alusão
à fruta da região, berço da etnia
Juruna.
Com apoio da Fundação Nacional do Índio
(Funai) e da Polícia Federal, o Ibama autuou oito
pescadores pegos em flagrante em área proibida,
que pagarão multa de R$ 1 mil cada um e serão
denunciados ao Ministério Público Federal
por crime ambiental. Os agentes ambientais federais apreenderam
11 barcos, 11 motores e embargou uma pousada. A autuação
prevê multa de R$ 450 mil.
Desde 2009, quando recebeu
da Funai e das comunidades indígenas as primeiras
denúncias de caça e pesca ilegal no local,
o Ibama fez missões de reconhecimento na região.
A partir de então, a operação passou
a fazer parte do Programa Nacional Anual de Proteção
Ambiental (PNAPA).
As pousadas situadas
ao lado da terra indígena vendem em seus pacotes
a possibilidade de o cliente usufruir de todos os benefícios
naturais do lugar, o que é ilegal, pois, de um
lado do rio, está a terra indígena e, de
outro, o Parque Nacional do Xingu, ambos com entrada proibida.
Segundo o superintendente do Ibama em Mato Grosso, Ramiro
Martins Costa, é preciso chamar a atenção
das autoridades para a necessidade de se melhor regulamentar
a exploração comercial do entorno da terra
indígena Kapoto-Jarinã. “Vamos gerar um
relatório e entregá-lo ao presidente do
Ibama, mostrando a importância que essas comunidades
têm para a conservação do meio ambiente
e a pressão que esse meio vem sofrendo”, informou.
Ainda nas palavras de Martins Costa, existe estudo para
a criação de uma terra indígena exatamente
na região onde estão as pousadas, local
em que nasceu o cacique Raoni, lugar histórico
das etnias indígenas Juruna e Caiapó.
Na avaliação do Ibama, o resultado da operação
foi excelente. Foi possível estreitar os laços
entre as comunidades indígenas da área,
que são os verdadeiros guardiões da floresta,
e a superintendência do Ibama no Mato Grosso. Lideranças
como os caciques Raoni, Megaron, e Dedjai estão
extremamente satisfeitas com a atuação do
Ibama e confiantes no Estado Brasileiro.
Segundo o representante da Funai na operação,
Henrique Klocker de Camargo, os limites devem ser respeitados.
A pesca não é uma atividade proibida mas
é necessário que ela seja feita fora das
áreas indígenas, pois os índios não
fazem pesca esportiva, fazem pesca de subsistência.
De acordo com índios entrevistados, a presença
do homem branco em sua terra não é bem vista.
O homem branco, segundo eles, polui o rio e a floresta,
pega o peixe, mata o jacaré, a onça, a anta.
“Nosso supermercado é a floresta. Daqui, tiramos
o nosso sustento. Se o pescador acabar com o peixe, meus
netos e bisnetos vão tirar de onde sua alimentação?
Por isso, chamamos o Ibama para que não deixe o
branco entrar na terra do índio.”, disse Waiwai,
cacique de uma das tribos caiapós.
Na mesma linha, o cacique Apudeká Yudjá,
da aldeia Kapot Ninore, disse que, para os indígenas,
a presença do Ibama é motivo de muita alegria.
Essa operação é muito importante,
pois eles vivem um drama ao ver a situação
do rio Xingu. “O que vem acontecendo com a presença
de pescadores que acabam com nossos peixes nos deixa muito
tristes. Queremos a expulsão desses pescadores
e o fechamento das pousadas que atraem o homem branco.
Sem o rio e sem a floresta, nosso povo não tem
condições de viver. Fomos criados na mata
e na mata seremos felizes”, justificou.
As operações no rio Xingu, no entorno da
terra indígena, acontecerão com regularidade.