Preservando as cavernas
A conservação e a preservação
depende de nós
Nossas casas de pedra: Conservar uma caverna é
manter suas características próprias inalteradas,
de modo a modificar o menos possível o ambiente.
Uma caverna não é um simples túnel
escavado entre rochas, vazio e escuro. Seu ambiente, assim
como suas formas de vida e a própria formação
dos espeleotemas estão intimamente ligados ao meio
externo que a circunda. Por isso, qualquer alteração
na superfície reflete diretamente no mundo subterrâneo.
A poluição das águas, por exemplo,
nociva em qualquer circunstância, tem efeitos muito
danosos quando elas percorrem o interior de uma caverna.
Um rio poluído pode comprometer toda a manifestação
biológica. Não é admissível
que dejetos industriais, minerais ou domésticos,
sejam lançados em cursos de água que venham
se tornar subterrâneos.
O desmatamento, além
de descaracterizar o contorno regional, poderá
também influir de maneira direta sobre a caverna,
pois a destruição do revestimento vegetal
poderá dar início a desmoronamentos e deslizamentos
de terra, que irão de uma forma ou de outra interceptar
ou desviar o leito original do rio na caverna.
Da mesma maneira, as atividades ligadas à utilização
direta do espaço interior podem, se feitas de forma
inadequada, descaracterizar o meio cavernícola
e prejudicar o seu frágil equilíbrio ecológico.
A visitação ocasional, feita por turistas
e religiosos, é uma atividade que tem despertado
um interesse cada vez maior.
Na verdade, as cavernas sempre tiveram lugar de destaque
na imaginação e crendice popular. Talvez
isso possa ser atribuído aos aspectos bizarros
e misteriosos das ornamentações e a ausência
total de luz nos salões e galerias.
No Brasil inteiro são ouvidas estórias de
desaparecimento de pessoas e de manifestações
sobrenaturais e divinas no interior de cavernas. Os próprios
nomes dados a grande número de cavernas demonstram
esses fatos: Caverna das Fadas, Caverna do Diabo, Buraco
do Inferno, Gruta Sinistra, Lapa do Bom Jesus etc.
Com base neste aspecto "divino", existem cavernas
institucionalizadas pelo uso como verdadeiros templos,
locais de peregrinação e romaria. Na Europa,
as grutas de Lourdes e de Fátima são talvez
os melhores exemplos do caso. No Brasil, a Lapa do Bom
Jesus, a Gruta dos Brejões (BA) e a Terra-Ronca
(GO) são polarizadoras de festas religiosas, trazendo
toda uma população regional que monta ali
suas barracas de sapé, celebra missas, realiza
casamentos, batizados e faz promessas, deixando no local
grande quantidade de devotos.
No Brasil, distribuída por quase todos os pontos
de nosso teritório, existem aproximadamente 50
cavernas que são utilizadas para festas religiosas
e recebem durante o ano um grande público, atraído
pelas belezas de suas ornamentações.
O que se observa em todas as cavernas brasileiras abertas
ao turismo é uma infinidade de estalactites e estalagmites
quebradas. Quase todas as formações existentes
no chão estão pisoteadas. É o condicionamento
trazido do mundo exterior, onde "aquilo que está
no chão é lixo". Dentro de uma caverna
não existe esta diferenciação, e
todos os espeleotemas formados fazem parte de um só
conjunto.
Nessas cavernas existem as mais variadas formas de dejetos
espalhados pelos cantos. São restos de comida,
latas, plásticos etc., numa verdadeira agressão
ao meio natural.
Talvez tudo isso pudesse ser evitado, se os ógãos
responsáveis pela exploração turística
se preocupassem em desenvolver estudos relativos ao manejo
adequado de cavernas ou, no mínimo, adotassem os
já existentes.
Muitos desses atos predatórios como, por exemplo,
a construção de pontes e passarelas, muitas
vezes desnecessárias; represamentos de rios; remoção
de argila; iluminação inadequada etc., poderiam
deixar de ser feitos. Aliás, a iluminação
das cavernas feita de forma errada é possivelmente
o maior problema criado nas cavernas turísticas.
Do ponto de vista turístico, a luz é um
fator importante, pois oferece maior conforto e segurança
ao visitante. Ocorre que essa mesma iluminação
irá de uma forma ou de outra alterar substancialemte
o ambiente cavernícola, modificação
essa que oderá alcançar níveis lastimáveis,
se feita sem critérios técnicos e conhecimentos.
A colocação de holofotes com luzes fixas
e constantes interferirá tanto na temperatura ambiental,
como na umidade do ar, fatores geralmente imutáveis
ao longo dos anos. Essas modificações poderão
ser sentidas no desaparecimento de certos animais, na
alteração de seus hábitos e comportamento,
no crescimento de vegetação clorofilada,
na decomposição de espeleotemas etc. A iluminação
com luzes coloridas agrava ainda mais essa situação,
pois, além de causar as alterações
citadas, descaracteriza toda a paisagem, e convém
lembrar que se pretende mostrar ao visitante a obra da
natureza, e não as obras do homem na natureza.
Qualquer planejamento que procure implantar uma infraestrutura
turística deve, antes de mais nada, dar um exemplo
conservacionista. O visitante deve ser estimulado a preservar
esse ambiente e não ser levado a contribuir para
sua destruição, como ocorre na maioria dos
casos.
As áreas próximas às entradas de
quase todas as cavernas exploradas turisticamente são,
por exemplo, transformadas em meros "pontos comerciais"
com a venda de "lembranças da caverna",
dando ao turista o primeiro exemplo de depredação.
Essa comercialização lamentavelmente não
se restringe às portas das cavernas. Chega até
as vítrinas de grandes lojas de pedras preciosas
e cristais, como o oferecimentos desses mesmos espeleotemas,
agora manufaturados e tranformados em jóias e cinzeiros.
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Caverna
da Água Suja, no núcleo Santana,
Petar |
As
grutas correm ainda um outro risco, diferente do causado
pelo uso inadequado e sem planejamento. É aquele
muito mais grave e destruidor representado pela exploração
mineral. Em busca da matéria-prima, firmas minerados
têm conseguido destruir cavernas inteiras.
Essa atitude inconseqüente
vem desde o tempo do império, quando depósitos
fossilíferos foram destruídos pela exploração
do salitre. Mais recentemente, na mina de Santa Blandina,
município de Itapeva (SP), foi descoberta uma pequena
gruta com formações estalactíticas
de cor esverdeada feitas de malaquita (carbonato de cobre).
Tal raridade, no entanto, não existe mais, porque
a área foi dinamitada e totalmente destruída.
Ainda no Estado de São Paulo, mais especificamente
no Vale do Ribeira, várias firmas mineradoras ameaçaram
a existência de grutas e depósitos fossilíferos
com a exploração do calcário para
a produção do cimento e da cal.
Quando alguém quebra
um espeleotema e escreve seu nome na parede branca de
uma galeria ou, ainda, quando regiões inteiras
são destruídas, um ato irreparável
está sendo feito contra a natureza.
Os motivos que levam a isso não se justificam.
Não se pretende aqui dar lugar a delongadas considerações
sobre os aspectos mesquinhos e egoístas deste tipo
de procedimento. O que se quer é levantar o problema,
oferecendo uma contribuição para que seja
desenvolvido entre nós um espírito preservacionista
em relação ao patrimônio natural.
Diante deste quadro desfavorável, torna-se clara
a importância de uma conscientização
popular em defesa desses monumentos naturais.
Somente com fortalecimento de uma mentalidade preservacionista
poderemos evitar que bens naturais ainda existentes sejam
destruídos em nome de interesses imedialistas e
em prejuízo das próximas gerações.
Acessando as cavernas
Técnicas
espeleológicas
Exploração:
Desvendar a cada passo salões e galerias onde jamais
outro homem penetrou, descobrir fantásticas formações
minerais e estranhas formas de vida é sem dúvida
uma das mais excitantes aventuras que a natureza ainda
nos reserva.
Explorar uma caverna é isto; buscar entendê-la
enquanto manifestação de inúmeras
forças naturais, o que exige acurada observação,
tecnologia adequada e senso de equipe.
No caminho da exploração, inúmeros
perigos e obstáculos físicos se opõem
ao avanço do explorador. O ambiente pode lhe ser
hostil pela ausência de luz, pelo frio e pela umidade
e o caminhamento dificultado por grandes distâncias
e desníveis, por pisos irregulares e escorregadios,
por estreitamento e "tetos baixos". Da mesma
forma, rios lagos e cachoeiras ou ainda trechos desmoronados,
sifonados e inundações podem não
apenas dificultar a penetração mas até
torná-la imposível.
Equipamentos:
A roupa pode ser composta por um macacão que deve
ser resistente, leve, ignífugo (não propagar
fogo) e de material que não retenha água;
meias compridas impermeabilizadas, que envolve a barra
do macacão protegendo as pernas do frio e de eventuais
pancadas; e um calçado leve (pode ser uma bota
ou tênis) com sola de borracha antiderrapante e
bico rígido (para facilitar as escaladas). Botas
de borracha, muito usadas em países onde a temperatura
da água é mais baixa, perdem muito de suas
funções em cavernas tropicais como as do
Brasil, tornado-se incômodas e inadequadas.
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Vista externa
da Caverna da Água Suja, no Parque Estadual
Turístico
do Alto Ribeira |
Luvas
que não retirem a sensibilidade dos dedos, podem
ser de grande utilidade nas escaladas em locais estreitos
e nas paredes àsperas ou angulosas, servindo também
para manter as mãos limpas para quando se manusear
equipamentos fotográficos e filmagem.
É igualmente recomendável levar um agasalho
leve para lugares onde há a incidência de
água fria ou em explorações onde
se despenda muita energia pelos esforços exigidos.
O descuido com a perda de calor pode levar o explorador
a um estado de hipotermia que chega ocasionar problemas
de extrema gravidade ou mesmo a morte em alguns casos.
Completando, aparecem o cinturão de segurança
ou a "cadeirinha" e o capacete (metálico,
plástico, ou fibra), que, além de proteger
a cabeça contra eventuais batidas ou quedas, também
serve como suporte para o bico de luz (carbureteira ou
lanterna).
A ausência de luz é o principal problema
a ser enfrentado no ambiente cavernícola, requerendo,
portanto, sistemas de iluminação adequados
e fontes de luz complementares.
No Brasil, o sistema de iluminação mais
utilizado ainda é o de carbureto. Um reator, preso
ao cinto de segurança, produz o gás acetileno
resultante da reação química entre
o carbureto e a água. Este gás levado or
meio de uma mangueira plástica até o bico
de gás instalado na parte frontal do capacete.
Regulando a entrada de água no sistema, o explorador
pode obter uma chama maior ou menor, de acordo com suas
necessidades. Este tipo de iluminação é
de baixo custo, fácil manutenção
o oferece luz quente e difusa.
A iluminação por meio de lanternas de cabeça
também é usada, mas o desenpenho não
é tão bom quanto o da carbureteira. Porém,
sua vantagem em relação à conservação
da caverna é maior pois não deixa as marcas
no teto do fogo da carbureteira em lugares muito baixo,
e não deixa os resíduos da combustão
causada pelo carbureto. Além deste equipamento
básico, o explorador deve trazer à mão
uma boa lanterna de pilhas, que, além de ser muito
útil na exploração (iluminação
de tetos, galerias estreitas etc), na fotografia (para
facilitar a focalização) e nas observações
geológicas e biológicas, é fundamental
como equipamento de segurança.
O explorador deve dispor também de outras fontes
alternativas de iluminação, como isqueiros,
fósforos (à prova d'água), velas,
reserva de carbureto etc., tudo cuidadosamente protegido
da umidade e da água.
Este material faz parte de uma pequena caixa estanque
conhecida no meio espeleológico como "tesouro",
que, além dos objetos citados, deve trazer uma
pequena reserva de alimentos (chocolates, por exemplo),
utensílios de primeiros socorros - Veja mais na
série especial sobre primeiros socorros "Dr.
Pick-upau" na seção Dicas do Pick-upau
-, um pequeno alicate, desentupidores de bico de gás
e peças de reposição como os próprios
bicos e lâmpadas e pilhas para as lanternas. A experiência
tem mostrado a utilidade e necessidade destes equipamentos
em inúmeras situações.
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Entrada
da Caverna Alambari de Baixo, Petar |
Outros
equipamentos são ainda indispensáveis numa
excursão a cavernas: cordinhas ou fitas de náilon
em número e dimensões adequdadas têm
sempre uso garantido; o mosquetão, peça
de metal leve, semelhante a um cadeado grande, é
sem dúvida o mais versátil e útil
dos equipamentos espeleológicos, sendo utilizado
em praticamente todas as manobras de escalada e segurança.
Completando este quadro, tem-se a mochila, que deve ser
leve, resistente, impermeável, de dimensões
médias, com bolsos chapados (ou internos) e sem
fivelas ou quaisquer peças salientes. Tanto as
mochilas como os macacões e demais equipamentos
devem ser de cores claras e vivas, facilitando a identificação
visual.
Os obstáculos e as técnicas: Raras são
as cavernas que se apresentma como longos e retilíneos
túneis onde o explorador pode movimentar-se com
facilidade. Mesmo quando suas galerias são amplas
e pouco inclinadas. O piso das grutas costuma apresentar
acúmulos de argila, poças e cursos de água,
trechos escorregadios, blocos desmoronados instáveis
e uma série de irregularidades que dificultam o
caminhar de pessoas pouco experientes.
Caminhar em cavernas requer uma certa prática.
É necessário manter um ritmo adequado, nem
rápido nem lento; o tamanho dos passos também
deve ser controlado e o equilíbrio deve ser igualmente
desenvolvido.
Só assim o explorador poderá economizar
suas energias, "despregar os olhos do chão"
e apreciar no geral e nos detalhes a paisagem e a beleza
que o rodeiam. Com a prática constante ele fica
sabendo, em um simples relance, onde pode pisar ou se
apoiar, que tipo de piso está a seus pés,
se um trecho é escorregadio ou não, enfim
cria um diálogo mudo com a pedra e o ambiente,
que lhe dá liberdade e segurança nos movimentos.
A experiência não pode, no entanto, justificar
a neglegência, assim como a resistência ou
a força física não podem justificar
a falta de técnica.
Um problema comumente enfrentado pelos exploradores é
o representado pelos "tetos baixos", pelas "entaladas"
e pelo "quebra-corpos" que, como indicam os
próprios nomes, são locais estreitos de
difícil ultrapassagem. Tais estreitamentos obrigam
muitas vezes o explorador a ratejar por pisos enlameados,
ajoelhar-se sobre seixos rolados e, em vários casos,
não por serem intransponíveis mas por serem
de difícil ultrapassagem, tais estreitos guardam
almplos salões e enormes galerias à espera
de exploradores mais preparados e persistentes.
Para vencer este tipo de obstáculo não existem
técnicas, apenas conselhos e, mesmo assim, a prática
direta e contínua pode ensinar melhor que eles.
O caminhar pode às vezes ser barrado por uma parede
muito inclinada ou vertical, geralmente lisa, molhada
e escorregadia, que deve ser escalada.
Estas escaladas são geralmente facilitadas pela
presença de fendas e saliências na rocha
além de espeleotemas resistentes e volumosos (estalagmites,
colunas etc) firmemente cimentados à parede. Começa
aí no entanto, o problema de segurança,
pois escorregões ou quedas podem ser desastrosos.
A segurança neste tipo de escalada é feita
por corda flexível que o explorador vai "fixando"
à parede por meio de fitas (laçadas) de
náilon presas às saliências rochosas
e "nós" (pequenas laçadas de corda
fina terminada em peça metálica semelhante
a uma porca de parafuso) que vão sendo entalados
nas fissuras das paredes. As fitas e os nós servem
como polias que direcionam e suportam a corda durante
a subida e que sustentam o explorador em caso de queda.
Os lances de escalada podem ainda localizar-se em juntas
de paredes perpendiculares e em fendas não muito
largas. Em ambos os casos, as técnicas básicas
são de contraposição de forças
como a "oposição", a "chaminé"
e a "tesoura".
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Entrada
da Caverna Morro Preto, núcleo Santana, Petar
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Na
"oposição" o corpo do explorador
se desloca externa e paralelamente à fissura (ou
fenda estreita), onde as mãos se apóiam,
tracionado-a. Simultaneamente, os pés, pressionando
a parede perpendicular à fissura, caminham por
ela (subindo ou descendo) em movimento sincronizado com
o das mãos.
Na "chaminé" o deslocamento se dá
interna e verticalmente ao longo da fenda. O explorador
fica como que sentado perpendicularmente a ela com os
pés pressiondo a parede da frente enquanto as costas
e as mãos pressionam a de trás, alterando-se
no movimento de subida ou descida.
O explorador pode ainda deslocar-se horinzontamente ao
longo de galerias estreitas e profundas (fendas verticais)
utilizando-se da técnica de "tesoura'.
Em posição vertical , com braços
e pernas estendidos, pode caminhar pela fenda pressionando
e se apoiando nas paredes laterais. Outro obstáculo
comum ao deslocamento dos exploradores é o representado
pelos poços e abismos que, por vezes, são
os únicos caminhos possíveis para o prosseguimento
da exploração.
Ao encontrá-los, a primeira preocupação
do explorador é saber sua profundidade, para o
que dispõe de dois métodos principais:
O primeiro baseia-se no cálculo visual, sendo iluminar
o fundo do abismo com o fecho de uma lanterna. Quando
desnível é muito grande ou o piso muito
escuro, pode-se prender a lanterna na extremidade de uma
corda e descê-lo, a fim de que a bse do poço
sejá vista.
Outro método é calcular o tempo necessário
para se escutar o som de uma pedra deixada cair no abismo.
A tabela a seguir permite o cálculo imediato de
profundidade em função deste tempo.
O uso deste método pode ser igualmente útil
para indicar patamares a meio caminho (pelas pancadas
da pedra) e o tipo de material dos pisos (rocha, argila,
água) pelo som produzido. Só deve, porém,
ser utilizado em casos onde não se disponha de
outras formas e com extremo cuidado para não provocar
desmoronamentos e não danificar cordas e escadas
já instaladas no abismo.
A exploração de lances verticais (poços
e abismos) apela para técnicas artificais que se
resumem em "preparar a via", colocando-se apoios
artificiais como os pregos e pitões ou de "criar
uma via artificial independente" com cordas, escadas
e mastros.
Existem dois tipos de escada para a espeleologia: as escadas
rígidas de segmentos montáveis e as escadas
flexíveis de cabo de aço.
As primeiras, assim como os mastros (também montáveis),
têm a mesma finalidade, ou seja, permitir ao explorador
atingir galerias superiores (até 10 m de desnível),
cuja entrada se situe em lugares de difícil acesso.
A escada rígida resolve o problema de forma direta,
mas é volumosa e de difícil transporte;
o mastro, menos pesado e volumoso, é utilizado
como suporte para uma escada flexível que é
fixada em sua extremidade superior, pela qual sobe o explorador.
Tanto uma técnica como outra, apesar de representarem
as únicas soluções possíveis
no desenvolvimento de certas explorações,
são obviamente restritas a expedições
em cavernas de acesso mais fácil e contando com
equipes mais numerosas.
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Estalagmites
e estalactites se juntam formando uma coluna na
Caverna Santana (Petar) |
As
escadas de cabo de aço, inventadas por De Joy na
França em 1937, é um equipamento corriqueiro
e indispensável a todas as equipes de exploração
de cavernas. Possuem degraus de alumínio, são
leves e podem ser enroladas para facilitar o transporte.
As quatro extremidades do cabo de aço terminam
por elos de corente recortados em forma de "c",
que possibilitam a conexão de diversos lances consecutivos
de escada, possuindo cada uma delas 10 de comprimento.
Tais escadas são utilizadas para vencer poços
e abismo (subida e descida), sendo fixadas por meio de
cordas, fitas de náilon ou amarradas de cabo de
aço às saliências rochosas ou às
ornamentações de resistência e imobilidade
comprovadas.
Em função da morfologia do abismo ou da
localização dos pontos de amarração,
a escada pode ficar encostada às paredes do poço
ou inteiramente livre (lance em negativo).
No caso de a escada ficar encostada às paredes.
É impostante o cuidado para não haver deslocamento
de pedras, que podem atingir pessoas situadas mais abaixo
ou mesmo danificar a escada. Por esta razão, é
fundamental que antes mesmo de fixar a escada os exploradores
cuidem da "limpeza" do lance, recolhendo as
pedras instáveis e amontoando-as longe das bordas
do poço.
Em caso de lance "em negativo" existe o problema
de a escada entrar em movimento de pêndulo ou rotação
dificultando o deslocamento. Para solucionar estes problemas
é necessário que o explorador saiba posicionar-se
na escada. Seu corpo deve ficar o mais vertical possível,
seus braços devem envolver a escada de forma a
segurá-la com as palmas das mãos voltadas
para o corpo e seus pés devem deslocar-se alternando-se
pela frente (ponta dos pés) e por trás (calcanhar).
É importante salientar a necessidade da corda de
segurança em todos os lances de escada. Esta segurança
pode ser realizada de diversas maneiras, adequando-se
às condições do local. São
quatro os métodos de segurança mais conhecidos:
superior, inferior, mista e a de auto-segurança,
que serão descritos juntamente com as técnicas
de subida e descida com cordas.
No caso de escaladas em paredes muito inclinadas, pode-se
utilizar de uma "corda-fixa". Esta corda presa
em locais na extremidade superior do lance serve como
um corrimão de segurança para o explorador
que sobe "caminhando" perpendicularmente à
parede. O uso desta técnica, que pode ser muito
útil para dar maior velocidade à equipe
de exploração, tem, no entanto, seu uso
restrito a poucos e pequenos lances da escalada.
Em abismos, as descidas e subidas também podem
ser feitas com o uso de cordas e equipamentos especiais,
o rapel clássico ou com aparelhos. Para saber mais
sobre as técnicas de rapel Veja também a
matéria especial sobre rapel pendurada na seção
Mundo.
Os perigos que representam os abismos, além de
requerer e incentivar o desenvolvimento de técnicas
e equipamentos especiais, faz com que o explorador se
preocupem ainda mais com os aspectos relativos à
segurança individual, controlando os impulsos da
curiosidade e da aventura.
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A monitora
ambiental Jeany Oliveira ilumina uma das entradas
da Caverna do Morro Preto |
Tal
atitude não ocorre, porém, no mesmo nível,
com os obstáculos aquáticos em caverna que
geralmente são vistos como inofensivos ou apenas
incômodos, pois molham e provocam frio. Na prática,
a água em caverna representa, se não o maior,
um dos maiores perigos para o explorador. É importante
que o exlorador, sem criar traumas, entenda que água
em cavernas representam um sério e real perigo,
que se manifesta de inúmeras formas.
A simples travessia de um rio mais volumoso ou com correnteza
mais forte pode transformar-se em uma aventura frustante
e perigosa. Em tais situações o explorador
deve sempre contar com uma corda de segurança que
com facilidade possa puxá-lo para margem.
Em lagos e poços profundos onde seja necessário
nadar, os riscos aumentam, pois com sua vestimenta e seus
equipamentos (mesmo que reduzidos ao mínimo) o
explorador tem muito peso e pouca mobilidade. Por estes
e outros motivos, como o aparecimento de cãibras,
a perda de sua luz na água, além da corda
de segurança, necessita ter consigo uma pequena
bóia ou câmara de ar. Esta bóia será
igualmente útil no transporte de mochilas e equipamentos
que não podem ser molhados.
Se o trecho de água for muito longo, deve-se utilizar
um bote inflável. Não dispondo desse equipamento,
convém analisar a possibilidade de continuar a
exploração em época de águas
mais baixas (estações de seca) ou voltar
devidamente equipado.
Saber quando para uma exploração é
tão importante como planejá-la e executá-la
devidamente. A falta de precaução e a negligência
nunca foram qualidades na espeleologia.
Também as cachoeiras representam obstáculos
respeitáveis em cavernas, principalmente se junto
a elas exististirem lances de corda ou escada para vencer
o desnível. Nestes casos, além de instalar
o equipamento o mais afastado possível da queda-d'água,
deve-se utilizar segurança múltipla (superior,
inferior e-ou auto-segurança) e tomar especial
cuidado a fim de evitar movimentos em pêndulo que
podem colocar o explorador sob o jato de água e
projetá-lo para fora do lance.
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Caverna
do Morro Preto, Petar |
É
igualmente importante que o explorador conte com uma lanterna
de mão para dispor de luz nos casos, muito comuns,
de a água apagar sua chama de acetileno.
O maior perigo das águas em caverna está
relacionado à exploração de sifões.
Estes sifões são trechos do rio onde, por
estreitamentos, desmoronamentos ou quaisquer outros motivos,
o nível da água atinge o teto da galeria.
Tais trechos submersos, que podem ter apenas alguns centímetros
de comprimento, às vezes atinge centenas de metros,
os quais o explorador só pode ultrapassar mergulhando.
É fácil entender o perigo que representa
este tipo de obstáculo, onde, além das dificuldades
inerentes às cavernas (escuridão, argila,
estreitamento etc.), somam-se as dificuldades relativas
ao mergulho autônomo. Isto faz do "forçamento
de sifões" uma tarefa para bons espeleólogos
que sejam simultaneamente experientes mergulhadores e
nunca uma atividade para novatos ou autodidatas.
Após um sifão pode existir salas ornamentadas
ou mesmo quilômetros de galerias. Por isso, ao mesmo
tempo que repelem e provocam medo, os sifões atraem
o espeleólogo aguçando-lhe a curiosidade
e despertando seu espírito de aventura. Foi este
sentimento súbio que levou espeleólogos,
como Norbert Costeret, a se aventurar sem roupas adequadas,
sem cilindros de ar e sem nenhum outro equipamento de
segurança, por um sifão na Gruta de Montespan
e encontrar do outro lado um verdadeiro museu da cultura
paleolítica.
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Dema (Petar)
e Andrea Nascimento (Pick-upau) observam a pequena
entrada da Caverna Ouro Grosso, um das mais radicais
da região |
Constavam cerca de 50
gravuras nas paredes, aproximadamente 30 estátuas
de argila (ursos, cavalos, felinos, bisões, hienas,
mamutes e outros animais pré-históricos)
além de signos e figuras antropomórficas
gravadas em traço. Foi, entretanto, o mesmo espírito
que causou a morte de inúmeros espeleólogos
em diversos países.Vale destacar que em grande
parte das cavernas abertas a visitação ao
público trazem muitas ornamentações
logo em seus primeiros metros e que na maioria das vezes
o visitante fica satisfeito com tal beleza. Sendo dispensável
aventurar-se mais adiante, colocando em risco a integridade
física de todo o grupo, além do risco de
danos irreparaveis em formações de milhões
de anos. Nunca entre em uma caverna sem os equipamentos
adequados e sem o devido acompanhamento de um guia. E
lembre-se, mesmo seguindo todos os mandamentos da exploração
em cavernas os imprevistos estão sempre presentes.
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Jeany Oliveira
(monitor ambiental) observa os espeleotemas da Caverna
Santana, uma das belas do Petar |
O Mundo
das Cavernas: Parte 4
O Mundo das Cavernas: Tudo que você queria saber
sobre cavernas mas tinha medo de escuro.
Apoio
Revista Eco Turismo
Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo
Fonte de pesquisa
A Problemática do Estudo de Biologia em Cavernas
(Epeleo-Tema)
Princípios de Espeleologia Exterior (PAMA)
O Ambiente das Cavernas (SBE)
Pesquisas do Conjunto Hidrológico das Áreas
(SBE)
Espeleologia no Brasil (PAMA)
Topografia Subterrânea Aplicada às Cavernas
(P. Kruger)
Cavernas Brasileiras (Melhoramentos)
Nota
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