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Dezembro 2010 - Cancun, MÉXICO – A
água e sua disponibilidade constituem, de
acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC, da sigla em inglês),
a principal pressão para a sociedade frente
às mudanças climáticas. Daí
a necessidade de melhorar a compreensão dos
problemas que isto implica. Isto indica que são
absolutamente críticas as reduções
dos níveis de emissão de carbono,
reduções que devem ser substanciais,
imediatas e ambiciosas, de modo a evitar maiores
impactos.
É
urgente que se adote um marco de adaptação,
priorizando a implementação de ações
relativas à água, sobretudo para assegurar
o êxito das estratégias de mitigação.
As decisões da COP 16 em matéria de
adaptação devem estar fundamentadas
em sólidos mecanismos de financiamento e
apoio técnico para assegurar sua implementação
adequada em países em desenvolvimento.
“Mudar
nosso modelo de desenvolvimento para uma economia
de baixo carbono não será possível
sem que a gestão integrada dos recursos hídricos
seja sólida, sustentável e adaptável
às novas condições climáticas”,
comentou Vanessa Pérez-Cirera, diretora do
Programa de Mudanças Climáticas do
WWF-México.
A
gestão dos recursos hídricos no mundo
deve adequar rapidamente seus princípios
e operações ao novo cenário
de mudanças climáticas, melhorando
a gestão e governança da água,
o entendimento da variabilidade climática,
controlando o impacto das ações de
mitigação mas, acima de tudo, considerando
a necessidade de evitar má adaptação,
como, por exemplo, soluções que não
incorporem os serviços dos ecossistemas ou
a participação da sociedade.
Ainda
que somente 1% da água doce do planeta esteja
acessível ao ser humano, existem recursos
hídricos suficientes para atender às
demandas sociais e ambientais. O correto é
assegurar a qualidade e a quantidade de água
requerida, evitando interferências substanciais
nos rios, lagos, áreas úmidas e aquíferos.
As
maiores ameaças sobre os recursos hídricos
em nível global são: a fragmentação
dos rios, provocada por obras de infraestrutura,
a superexploração e a contaminação.
Segundo o informe Planeta Vivo 2010, da Rede WWF,
dois milhões de toneladas de águas
residuais são vertidas diariamente dentro
de diferentes corpos d’água em todo
o mundo, e as populações de espécies
tropicais de água doce diminuíram
em quase 70% nas últimas quatro décadas;
esta foi a maior redução de espécies
registrada estatisticamente, o que representa uma
ameaça à segurança alimentar
de muitos países em desenvolvimento, que
obtêm 70 de suas necessidades de proteína
a partir do pescado de água doce.
A
Rede WWF conclama aos governos e instituições:
Fortalecer
os marcos regulatórios sobre o uso e aproveitamento
de recursos hídricos, em todos os níveis:
nacional, regional e global, para estabelecer e
cumprir um limite sustentável de uso e conservação
de água;
Eliminar
subsídios perversos e implementar incentivos
adequados para evitar o desperdício de água
e aumentar a eficiência de seu uso;
Estabelecer
mecanismos mais robustos de transparência,
contabilidade, monitoramento e avaliação
participativa;
Considerar
e valorizar a relação entre águas
e florestas para harmonizar as políticas
de fomento florestal e agropecuário com as
políticas ambientais e, assim, deter o desmatamento.
Incorporar
as funções e serviços ambientais
na concepção, desenho e construção
de obras de infraestrutura.
Adaptação
no Brasil
Para
o WWF-Brasil, o tema de adaptação
às mudanças climáticas no país
ainda é bastante incipiente. Ainda são
poucas as instituições empreendendo
esforços específicos na adaptação
de ecossistemas aquáticos.
Existem
alguns estudos que avaliaram os efeitos das mudanças
do clima na vazão em algumas regiões
hidrográficas brasileiras, e suas consequências
aos setores de usuários. Entretanto, ainda
são necessários estudos sobre governança,
impactos sobre a biodiversidade aquática
e serviços ambientais associados (como a
garantia da qualidade da água).
"As
políticas públicas de clima no Brasil
têm um foco muito maior em mitigação
das mudanças climáticas do que em
adaptação” avalia Carlos Rittl,
coordenador do Programa de Mudanças Climáticas
e Energia do WWF-Brasil.
“Nos
últimos anos, o Brasil e nossas bacias hidrográficas
sofreram muito com eventos climáticos extremos.
Apesar de o Governo Federal reconhecer a importância
do tema, é necessário e urgente ao
país investir muito mais em estudos que avaliem
nossas vulnerabilidades, e desde já investir
em estratégias e implementando as ações
de adaptação”, concluiu.