Ciência
diz se aves ecologicamente semelhantes podem viver juntas
Espécies
forrageando em diferentes partes de uma única árvore
18/09/2025 – Embora
a competição por recursos entre aves possa
ser intensa, algumas espécies semelhantes conseguem
coexistir. Um estudo clássico de Robert MacArthur
havia mostrado que toutinegras vivem nas mesmas árvores,
mas em áreas diferentes, consumindo presas distintas.
Agora, um novo estudo está reexaminando essas observações
com técnicas modernas, revisitando um exemplo clássico
ainda citado em livros de biologia.
Pesquisadores da Penn State
e da American Bird Conservancy revisitaram o estudo clássico
de MacArthur e descobriram que a coexistência entre
toutinegras é mais complexa do que se pensava. Analisando
comportamento de forrageamento, características físicas,
dieta e história evolutiva, o estudo — publicado
na Biology Letters — reforça um princípio
central da ecologia: espécies que competem pelos
mesmos recursos não conseguem coexistir no mesmo
espaço por tempo indefinido, pois uma acabará
prevalecendo sobre a outra.
No influente artigo de 1958,
MacArthur explicou como cinco espécies de toutinegras,
consideradas ecologicamente equivalentes, conseguiam coexistir
ao forragear em diferentes partes da mesma árvore
— umas perto do tronco, outras nos galhos ou em diferentes
alturas. Segundo o professor David Toews, MacArthur já
destacava a importância de observar com mais atenção
as interações entre espécies para entender
sua convivência.
Utilizando tecnologia moderna
e métodos moleculares, pesquisadores revisitaram
as ideias de MacArthur para entender melhor como as toutinegras
dividem seu habitat. O estudo analisou 13 espécies
que coexistem nas florestas do nordeste de Nova York, observando
seu comportamento de forrageamento ao longo de 20 anos.
A equipe conseguiu quantificar a dieta das aves e explorar
como a competição ao longo da evolução
pode ter moldado essa convivência.
Os pesquisadores também
analisaram amostras fecais coletadas durante cinco verões
para identificar a dieta das toutinegras, composta por insetos
e aranhas. Além disso, utilizaram bancos de dados
públicos para obter informações sobre
as características físicas e os bicos das
espécies. Segundo David Toews, a ideia central do
estudo de MacArthur era que aves que forrageiam em diferentes
partes da árvore provavelmente consomem presas diferentes.
MacArthur tentou identificar
a dieta das aves analisando fragmentos de insetos nos estômagos,
mas os resultados eram imprecisos e limitados. Hoje, com
técnicas modernas como a metacodificação
fecal, os pesquisadores podem extrair DNA de fezes e identificar
com mais precisão os insetos consumidos. Assim como
MacArthur, eles constataram que as espécies de toutinegras
apresentam comportamentos de forrageamento distintos entre
si.
David Toews afirmou que
as aves estudadas consumiam milhares de espécies
de artrópodes, com uma grande sobreposição
em suas dietas. As diferenças alimentares entre as
espécies eram sutis, e aves intimamente relacionadas
tinham dietas semelhantes. Isso sugere que a ênfase
de MacArthur na dieta pode ter sido parcialmente equivocada,
embora sua ideia de divisão de recursos ao forragear
em diferentes partes das árvores ainda seja válida.
Toews observou que as aves
eram oportunistas na busca por alimento, com mais de 75%
das amostras fecais contendo uma mosca-da-narceja e mais
da metade, um gorgulho-das-folhas invasor. Miller acrescentou
que, devido às diferenças no comportamento
de forrageamento, a competição provavelmente
influenciou a alimentação e a evolução
dessas espécies. No entanto, como não há
muitas variações na dieta, outras forças,
como a migração para a América Central
e do Sul, também podem ter moldado as características
observadas nas toutinegras.
Os pesquisadores planejam
investigar mais a fundo a dieta e o comportamento de forrageamento
das toutinegras em seus locais de inverno, além de
analisar a qualidade nutricional das fontes de alimento
para verificar se a competição influencia
esse aspecto. Toews destacou que MacArthur estava correto
ao afirmar que as toutinegras dividem seu habitat de maneiras
sutis, mas que essa dinâmica é mais complexa
do que se pensava originalmente. O estudo também
ilustra como interações competitivas antigas
podem moldar as espécies observadas hoje.
Além de Toews e Miller,
a equipe de pesquisa da Penn State contou com Andrew Wood,
agora pesquisador de genômica ambiental na Universidade
de Minnesota, Duluth, e Marcella Baiz, que atualmente é
professora assistente na Universidade de Buffalo. A equipe
também incluiu Andreanna Welch (Universidade de Durham,
Reino Unido), Robert Fleischer (Zoológico Nacional
e Instituto de Biologia da Conservação do
Smithsonian) e Adrienne Dale (Universidade Texas Tech).
Saiba mais: Reavaliando
a partição de nicho em toutinegras de MacArthur:
comportamento de forrageamento, morfologia e diferenciação
da dieta em um contexto filogenético, Biology Letters
(2025). DOI: 10.1098/rsbl.2025.0001 . royalsocietypublishing.org/doi
… .1098/rsbl.2025.0001
Criado em 2015, dentro do
setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau,
a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas
ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas
científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos,
pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes,
polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio
de espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
em atuar na conservação das aves.
Da Redação,
com informações de agências internacionais
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
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