ShopFácil
Bradesco atende pedido da Pick-upau e retira anúncio
Equipamento
nocivo à biodiversidade estava à venda no
site da empresa de comércio eletrônico
29/09/2021 – Empresa
de comércio eletrônico do Bradesco, ShopFácil
atendeu pedido da Agência Ambiental Pick-upau e retirou
de sua plataforma digital o anúncio de um equipamento
que prometia espantar pássaros.
Há alguns meses uma
ativista da Pick-upau, encontrou o produto à venda
em diversas plataformas de comércio eletrônico.
O equipamento intitulado “Espanta Pássaro Guardian
2 Eco À Gás Portátil Com Pedestal Fixo”.
Uma espécie de bazuca que deveria ser conectado em
um botijão de gás GLP, e que prometia, segundo
sua descrição, espantar aves, roedores, morcegos
e qualquer outro animal que pudesse ser considerado uma
ameaça para sua produção.
Apesar da argumentação
da Organização, do envio de documento listando
os possíveis danos à biodiversidade e a saúde
humana, e mesmo tendo informado que outras dez empresas
concorrentes haviam atendido nossa solicitação,
o ShopFácil tentou argumentar sobre sua responsabilidade.
“Referente à
sua solicitação, somos um marketplace intermediador
da venda. Refletimos em nosso site alguns produtos anunciados
por nossos parceiros, os quais podem sofrer alteração,
disponibilizar ou indisponibilizar de acordo com as demandas
mercadológicas. Neste caso, se o parceiro está
oferecendo um produto indevido para venda, será necessário
entrar em contato com os próprios para a retirada
do anúncio”, informou o Shopfácil, em
resposta a nossa solicitação.
Evidente, que essa resposta
não reflete a verdade. A Pick-upau então informou
ao ShopFácil que a plataforma era sim responsável
pelos anúncios veiculados em sua plataforma e que
a desculpa do marketplace já havia sido usado por
empresas, que acabaram voltando atrás.
A Pick-upau informou ainda
que Carrefour, Magalu, Extra, Casas Bahia, Ponto, Shoptime,
Submarino, Americanas e a empresa Estrela 10, que originou
o anúncio retiraram o equipamento de suas plataformas.
A Organização também acionou o Bradesco,
dono da plataforma. Dias depois a empresa atendeu nossa
solicitação.
“Referente à
sua solicitação, informamos que o anúncio
foi retirado de nossa base, página excluída.
Permaneço à disposição em caso
de dúvidas”, informou o ShopFácil, em
email enviada à Organização.
A única empresa que
se negou a retirar o produto foi o Mercado Livre. Contudo,
a Agência Ambiental Pick-upau conseguiu derrubar o
anúncio, por meio da empresa que havia originado
a oferta.
Ruídos causam danos
à saúde e a biodiversidade
Distúrbios antropogênicos têm sido apontados
como a principal causa da crise mundial da biodiversidade
(Brumm 2010a). Alguns distúrbios têm menos
atenção de pesquisadores e conservacionistas
porque seus efeitos são mais difíceis de medir,
sobretudo quando afetam espécies em um nível
subletal, como é o caso da poluição
sonora (McGregor 2013). O ruído pode ser definido
como qualquer som indesejado e, no contexto das interações
sociais, ele interfere na detecção de um sinal
e na transmissão de sua informação
(Forrest 1994).
Nas últimas décadas
houve um aumento muito grande da poluição
sonora devido ao crescimento populacional, urbanização
e globalização das redes de transporte e a
estimativa é de que ela vai continuar em crescimento
(Shannon et al 2016). Em geral o ruído proveniente
de fontes humanas abarca um amplo espectro de frequência
entre 50Hz a 7000Hz (Simmons & Narins 2018). O ruído
desconhece fronteiras definidas, como as margens das rodovias,
neste caso os animais estão sujeitos a uma substancial
e descontrolada degradação da percepção
de sons importantes para sua reprodução e
sobrevivência (Barber et al. 2010).
A poluição
sonora advinda de atividades humanas é uma forma
muito preocupante de poluição que pode ter
impactos maciços na saúde humana e também
em outros animais (Brumm and Slabbekoorn 2005). O assunto
tem sido foco de pesquisa e regulação em humanos
(Murphy and King 2014), e os resultados são preocupantes
para a saúde, incluindo aumento do risco de doenças
cardiovasculares (Babisch et al. 2005; Hansell et al.
2013), privação do sono (Fyhri and Aasvang
2010) e comprometimento cognitivo (Szalma and Hancock 2011).
Um relatório sobre
o tema foi publicado pela Organização Mundial
de Saúde, há alguns anos, estimando que só
na União Europeia mais de 200.000 pessoas morrem
todos os anos devido a doenças induzidas pelo ruído
(OMS, 2009). Já se sabe que muitos dos efeitos potenciais
do ruído audível antropogênico em humanos
(Miedema and Vos 2003; Basner et al. 2014) se aplicam
igualmente aos animais (Francis and Barber 2013; Shannon
et al. 2016).
A poluição
sonora pode ser um problema para as funções
auditivas (Barber et al. 2010; Simmons and Narins
2018). As espécies geralmente ouvem um leque mais
amplo de sons do que são capazes de produzir e, além
disso, a audição continua a funcionar mesmo
quando os animais não produzem sons, isso inclui
atividade de sono ou hibernação, por exemplo.
Isso significa que elas estão expostas continuamente
aos efeitos do ruído ao seu redor (Barber et
al. 2010). Dessa forma, a poluição sonora
pode agir, por exemplo, como um estressor geral (Naguib
2013), influenciando vários processos vitais, desde
regulação gênica (Cui et al.
2009) a processos fisiológicos como pressão
arterial (Evans et al. 2001), resposta imune (Van
Raaij et al. 1996; Cheng et al. 2011), medo (Campo et
al. 2005) ou atenção e cognição
(Cui et al. 2009). (Informações extraídas
de Caorsi. V. Z., 2018).
A resposta a um estímulo
estressor é essencial para a homeostase de um ser
vivo e sua sobrevivência. O organismo reage sob condições
de estresse, ativando e desativando o mecanismo de controle
de várias funções, a fim de recuperar
e manter a homeostase. Contudo, essas respostas podem ser
insuficientes para restabelecer ou manter a homeostase,
ou podem ser exageradas, representando risco de doenças.
Portanto, o estresse pode ser definido como a soma de respostas
físicas e mentais, causadas por determinados estímulos
externos e que permitem ao indivíduo superar determinadas
exigências do meio-ambiente (FRANCI, 2005). Em uma
situação de estresse, o corpo se prepara para
reagir a situações de ameaça e este
processo aumenta o gasto de energia. Enquanto certa quantidade
de estresse é necessária para a sobrevivência,
o estresse prolongado pode afetar negativamente a saúde
(BERNARD & KRUPAT, 1994).
Em situações
de estresse, ocorre a ativação de duas principais
vias: o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA),
através do aumento da produção de cortisol
e o sistema nervoso simpático, através da
liberação de catecolaminas (Noradrenalina/
Adrenalina). A desregulação de qualquer um
desses sistemas de estresse pode levar a distúrbios
fisiológicos de vários outros sistemas, incluindo
os sistemas imunológicos, cardiovascular, função
metabólica e comportamento, levando a má adaptação
da resposta ao estresse (MARQUES et al., 2010).
Os estímulos que
causam o estresse podem ser classificados em quatro grupos:
estressores físicos e químicos (calor, frio,
barulho, radiação intensa e substâncias
tóxicas); psicológicos (medo e frustração);
sociais (um ambiente hostil e rompimento de relações)
e os que alteram a homeostase vegetativa, como em casos
de exercício intenso e hemorragias. Quanto à
duração, os estímulos causadores de
estresse podem ser ainda classificados como agudos ou crônicos
(PACÁK & PALKOVITS, 2001). (Informações
extraídas de Franzini de Sousa, C. C., 2015).
A Agência Ambiental
Pick-upau conseguiu retirar o produto das maiores lojas
de comércio eletrônico do Brasil. As aves agradecem.
Criado em 2015, dentro do
setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau,
a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas
ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas
científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos,
pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes,
polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio
de espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
em atuar na conservação das aves.
Da Redação
Fotos: Reprodução/Pixabay