Sociedade
civil celebra nova Política de Controle de Armas
e Munições
Agência
Ambiental Pick-upau assina nota com outras organizações
de diferentes causas
27/07/2023 – Do Instituto
Igarapé – 24 de julho de 2023 Em Nota à
imprensa, Segurança Pública, Regulação
de Armas e Munições – A sociedade civil
celebra a publicação de uma nova regulação
que visa reverter os retrocessos e minimizar os danos ocorridos
nos últimos quatro anos na política de armas
e munições do país. Mais ainda, temos
a oportunidade de avançar em pontos já frágeis
antes da escalada armamentista a que assistimos desde 2019.
Após um período de desconstrução
da política, e fragilização dos mecanismos
de fiscalização e controle, este marco representa
um passo significativo para a segurança e democracia
no país.
A lei 10.826/2003, popularmente conhecida
como Estatuto do Desarmamento, foi uma grande conquista
da sociedade e da democracia brasileiras. Além de
estruturar uma política sólida de controle
de armas e munições, que nos tornou exemplo
em todo o mundo, promoveu uma campanha de entrega voluntária
que tirou de circulação mais de 500 mil armas.
Infelizmente, volume maior que este voltou a circular em
apenas três anos, entre 2019 e 2021 – mas, agora,
com armas muito mais potentes. Em quatro anos, foram mais
de 40 atos normativos editados desmontando o Estatuto do
Desarmamento, desde no aumento do número de armas
que um cidadão pode adquirir – chegando a 60
– até no acesso a calibres antes restritos
às forças de segurança, como os fuzis.
Ao mesmo tempo em que o acesso a armamentos
foi estimulado, não houve investimentos em mecanismos
de fiscalização e controle, a ponto de o Exército,
assumidamente, não saber o tamanho do arsenal de
CACs (colecionador, atirador desportivo e caçador)
em cada cidade brasileira. Durante os últimos anos,
a imprensa revelou inúmeros casos de traficantes,
milicianos e assaltantes conseguindo armas legalmente, aproveitando-se
do fraco aparato do Estado para lidar com registros de materiais
controlados. As políticas públicas de segurança
estaduais também não acompanharam esse aumento
do número de armas e munições em circulação.
Além do caos normativo e da desconstrução
da política de controle de armas, foram anos de promoção
do armamento como via de ação política,
incentivando a intolerância e o aprofundamento de
uma lógica militarizada entre civis. A violência
armada, além de ameaçar a segurança
da população, passou a ser uma ameaça
à própria democracia.
As novas regras reduzem o limite de armas
por pessoa, restringem o acesso a armamentos de maior calibre,
retornando ao Estado o controle sobre esses arsenais privados.
O decreto diminui o prazo para renovação dos
registros, aumenta a fiscalização, moderniza
e integra os sistemas de informação sobre
armas existentes, ampliando a eficiência de ações
de inteligência e prevenção, além
de aperfeiçoar o controle sobre entidades privadas,
como os clubes de tiro. A comprovação dos
requisitos para adquirir uma arma também fica mais
rigorosa com o fortalecimento dos processos de obtenção
do laudo psicológico por profissional credenciado
na Polícia Federal e comprovação de
idoneidade com busca ativa nos bancos de dados, para verificar
eventuais investigações ou processos em nome
do interessado.
Essas medidas acatam diversas proposições
apresentadas no grupo de trabalho instituído pelo
Decreto 11.366/2023, coordenado pelo Ministério da
Justiça e Segurança Pública, e que
ao longo de três meses debateu o tema em uma composição
plural, abrindo espaço para todos os campos que quisessem
se manifestar. Esse novo arcabouço é fundamental
para frear o descontrolado acesso a armamentos, que, indicam
os primeiros dados, viabilizou o aumento dos casos de desvio
de armas legais para a ilegalidade, os acidentes fatais
e as disputas pessoais envolvendo armas de fogo com vítimas
fatais.
Celebramos, por fim, que uma regulação
firme sobre armas de fogo e munições esteja
sendo construída pelo Estado brasileiro, respeitando
a opinião dos 72% da população que
rejeitam a ideia de que mais armas é sinônimo
de mais segurança. Renovamos, assim, nossa esperança
de um controle efetivo sobre armas de fogo e munições,
e caminhamos em direção a um Brasil mais seguro,
pacífico e democrático.
Assinaturas:
• Agência Ambiental Pick-upau
• Apremavi
• Associação Brasileira de Saúde
Coletiva – Abrasco
• AzMina
• Centro de Convivência É de lei
• Coalizão Brasil por Memória, Verdade,
Justiça, Reparação e Democracia Conectas
Direitos Humanos
• Elas No Poder
• FADDH – Frente Ampla Democrática pelos
Direitos Humanos
• Fórum Brasileiro de Segurança Pública
• Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
• GENI/UFF
• Girl Up Brasil
• IDEAS – Assessoria Popular
• Iniciativa negra por uma nova política sobre
drogas
• Instituto de Defesa do Direito de Defesa –
IDDD
• Instituto de Estudos da Religião –
ISER
• Instituto Fogo Cruzado
• Instituto Igarapé
• Instituto Mãe Crioula
• Instituto Marcinho Megas Kamaradas Contra o Extermínio
de Jovens nas Periferias
• Instituto Sou da Paz
• Instituto Vladimir Herzog
• ITTC – Instituto Terra, Trabalho e Cidadania
• Justiça Global
• Kurytiba Metrópole
• Laboratório de Análise da Violência
(LAV/UERJ)
• Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais
• Open Knowledge Brasil
• Rede Justiça Criminal
• Washington Brazil Office
Veja
a publicação original.
Do Instituto Igarapé
Fotos: Reprodução/Unsplash/Jason Leung