06/10/2025
– Especialistas há muito conhecem a receita para acabar
com a crise de poluição plástica que assola
o planeta. O mundo, dizem eles, precisa adotar um processo conhecido
como circularidade, que visa prolongar a vida útil dos produtos
plásticos e mantê-los fora do meio ambiente.
Um dos problemas? Muitas empresas
que produzem e utilizam plástico não conseguem encontrar
trabalhadores com o conhecimento técnico necessário
para tornar suas operações mais circulares.
“Nesta região e em muitas outras, os currículos
acadêmicos muitas vezes tentam acompanhar as crises ambientais,
incluindo a poluição plástica”, afirma
Juan Bello, Diretor e Representante do Escritório Regional
para a América Latina e o Caribe do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O PNUMA firmou recentemente uma parceria com uma rede de universidades
regionais para equipar os alunos com uma série de habilidades
sustentáveis, incluindo aquelas relacionadas à circularidade.
Conversamos recentemente com Bello sobre o acordo e por que os estudantes
do ensino superior de hoje são atores-chave na campanha global
contra a poluição plástica.
Por que é importante construir uma economia mais circular
para os plásticos?
Juan Bello (JB): A resposta curta é que a Terra está
sendo inundada pela poluição plástica. A humanidade
produziu 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos
em 2024, de acordo com uma estimativa importante. Grande parte desse
plástico acaba no meio ambiente – dos campos dos agricultores
aos rios. Esse plástico está causando estragos nos
ecossistemas e está em nossos corpos, com efeitos sobre o
nosso bem-estar que ainda não compreendemos completamente.
Um modelo mais circular ajudaria os produtos plásticos a
durar mais e os tornaria mais fáceis de reciclar e reutilizar,
evitando que acabem se tornando poluentes.
Os graduados universitários
e técnicos de hoje sabem muito sobre circularidade?
JB: Os jovens estão mais conscientes do que nunca sobre as
pressões ambientais que o planeta enfrenta e os perigos potenciais
da poluição plástica. Mas na América
Latina e no Caribe – e suspeito que em outras regiões
– muitos não estão necessariamente recebendo
a formação acadêmica necessária para
ajudar a lidar com esses problemas, pelo menos de forma sistêmica.
Como isso afeta a transição
para uma economia circular para plásticos?
JB: Está desacelerando. Há um crescente apoio político,
empresarial e público à circularidade nesta região.
Mas algumas das soluções técnicas necessárias
para a transição exigem funcionários muito
qualificados. Por exemplo, como alterar a composição
do plástico para facilitar a reciclagem? Ou como criar uma
alternativa ecológica ao plástico que ainda seja durável?
Pessoas que conseguem fazer essas coisas não crescem em árvores.
A parceria do PNUMA com a ARIUSA é resultado direto do Pacto
por Empregos Verdes para a Juventude, um esforço da ONU para
criar 1 milhão dos chamados empregos verdes e tornar 1 milhão
de empregos existentes mais sustentáveis. O pacto foi recentemente
endossado por ministros do Meio Ambiente da América Latina
e do Caribe.
Mudar os currículos básicos
de universidades e faculdades é um processo longo –
algo que pode levar anos, senão décadas. Então,
como você lidará com esse problema?
JB: O objetivo a longo prazo é ajudar universidades e escolas
técnicas a desenvolver currículos que abordem a sustentabilidade
de forma sistêmica. Mas você tem razão –
isso leva muito tempo. Portanto, no curto prazo, estamos nos concentrando
em cursos mais curtos e baseados em habilidades, desenvolvidos por
instituições de ensino, idealmente em colaboração
com o setor privado. Algumas dessas microcredenciais também
poderiam ser obtidas após a graduação. O objetivo
é equipar rapidamente os alunos com as habilidades práticas
desejadas pelos empregadores.
Em que tipos de áreas você
vai se concentrar?
JB: A resposta curta: muitas. A circularidade exige habilidades
técnicas, sim, mas também uma mudança de mentalidade
– e, em muitos casos, de políticas. É por isso
que estamos adotando uma abordagem interdisciplinar, trabalhando
com estudantes de diversas áreas.
Algumas delas são esperadas, como engenharia e design de
produto, e outras não, como comunicação e direito.
Também enfatizaremos o pensamento sistêmico. Por exemplo,
como projetar produtos plásticos para que durem mais, possam
ser reparados e, ao final de sua vida útil, sejam reciclados?
Esse tipo de treinamento pode ajudar a combater o desemprego entre
os jovens? Na América Latina e no Caribe, o desemprego entre
os jovens gira em torno de 14%, o triplo da taxa entre os adultos.
JB: Sim. Este é o outro elemento
importante da equação. Além de combater a poluição
plástica, nosso objetivo é ajudar os jovens a encontrar
empregos estáveis e decentes, que são extremamente
escassos em muitas partes da região e do mundo. Até
2030, estima-se que haverá um déficit de 20% de funcionários
com habilidades verdes em todo o mundo, de acordo com um relatório
recente do LinkedIn. Assim, estudantes com formação
em circularidade terão uma vantagem no mercado de trabalho.
Por que a poluição plástica é um problema
que precisamos abordar agora?
JB: Porque a poluição por plástico está
disparando. A Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que, até
2060, os resíduos plásticos quase triplicarão,
chegando a um bilhão de toneladas por ano. Grande parte disso
certamente acabará no meio ambiente como poluição,
se as tendências atuais continuarem. Mas, ao mesmo tempo,
existem quase 240 milhões de jovens entre 10 e 24 anos nesta
região. Se pudermos expô-los à circularidade,
se pudermos equipá-los com habilidades verdes, eles podem
se tornar aliados importantes na campanha contra a poluição
por plástico.
O trabalho do PNUMA é possível
graças aos Estados-membros que contribuem para o Fundo
para o Meio Ambiente, o fundo principal do PNUMA que viabiliza seu
trabalho global. Saiba como apoiar o PNUMA para investir nas
pessoas e no planeta. Fonte: UNEP
Da UNEP
Fotos: Reprodução/Pixabay
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