27/10/2025
– O governo brasileiro lançará o Recircula Brasil,
plataforma pública criada para rastrear o ciclo de vida dos
produtos e comprovar o uso de materiais reciclados por empresas.
Desenvolvido pela ABDI e ABIPLAST, o sistema busca garantir transparência,
certificação e rastreabilidade na economia circular,
fortalecendo as metas de sustentabilidade do país.
A economia circular propõe
substituir o modelo de descarte por um ciclo de reaproveitamento
de recursos. Para dar transparência a esse processo, a nova
ferramenta cruza dados de documentos oficiais, como notas fiscais,
e calcula o balanço de massa — a entrada e saída
de insumos reciclados em cada etapa. Assim, emite selos de rastreabilidade
e conteúdo reciclado, tornando comprovável e auditável
o que antes era apenas uma declaração voluntária.
Segundo Ricardo Cappelli, presidente
da ABDI, o Recircula Brasil já conta com uma base sólida
de dados e verificou mais de 40 mil toneladas de plásticos
reciclados até janeiro de 2025, envolvendo 304 fornecedores
em 11 estados e 1.497 clientes. Desenvolvido em parceria com a CCLR,
o programa surge em meio a um cenário desigual, em que a
adoção da economia circular no Brasil ainda avança
em ritmos distintos, segundo a CNI.
Setores como calçados, biocombustíveis
e eletrônicos já adotam práticas de economia
circular de forma estruturada, enquanto construção
civil, gráficas e farmacêuticas ainda avançam
lentamente. A diferença entre os segmentos mais e menos desenvolvidos
ultrapassa 50 pontos percentuais. A ABDI vê o sistema como
um primeiro passo para padronizar dados e gerar confiança,
mas especialistas ressaltam que o avanço depende de mudança
cultural e incentivos econômicos, com a circularidade integrada
às decisões de negócio.
A economia circular só se consolida
quando há demanda, regras e mercado que sustentem o ciclo
produtivo. No Brasil, porém, ainda faltam compradores, metas
e mecanismos de verificação que comprovem o uso real
de reciclados. Criar um mercado para soluções circulares,
como aço de baixo carbono e plástico certificado,
é visto como passo essencial para transformar o conceito
em prática. Incentivos públicos, parcerias empresariais
e educação da sociedade são apontados como
caminhos para dar escala ao modelo.
A circularidade vai além de
trocar máquinas ou processos — é uma nova forma
de pensar, que prioriza uso eficiente, reuso e durabilidade. Setores
como a siderurgia já veem nisso uma estratégia de
competitividade. Essa lógica fortalece um mercado em que
o valor está na circularidade, não apenas na produção.
Diversos setores avançam na
economia circular, ainda que em ritmos diferentes. A indústria
têxtil testa logística reversa e reaproveitamento de
fibras, enquanto o setor automotivo investe na remanufatura de peças
para reduzir desperdícios. Especialistas destacam que a transição
ocorre por etapas: começa com ações internas,
passa por ajustes de eficiência e evolui até que a
circularidade oriente decisões e parcerias.
O Recircula Brasil busca acelerar
a fase em que a circularidade se torna prática real, e não
apenas conceito. O governo pretende mostrar avanços concretos
com base em dados verificáveis, adotando o sistema MRV —
monitoramento, relato e verificação —, padrão
internacional que garante transparência e credibilidade por
meio de auditorias independentes. O objetivo é integrar todas
as etapas do ciclo produtivo, da fábrica ao descarte, permitindo
comprovação e comparação das informações.
O Recircula Brasil aposta em três
pilares técnicos: interoperabilidade, permitindo que sistemas
de empresas, governo e certificadoras “conversem” e
reduzam falhas; cadeia de custódia, que rastreia o percurso
completo do produto; e mass balance, método que verifica
o uso real de material reciclado. Com o avanço do Recircula
Brasil, cresce o debate sobre os limites da reciclagem, questionando
se ela sozinha resolve o problema dos resíduos.
O Brasil despeja 1,3 milhão
de toneladas de plástico nos oceanos por ano, sendo o maior
poluidor da América Latina, segundo dados. Em resposta, o
governo lançou em 2025 a Estratégia Nacional do Oceano
Sem Plástico (Enop), que busca prevenção e
consumo responsável, reconhecendo que reciclagem sozinha
não resolve o problema. Apesar do crescimento de 8% na produção
de plástico reciclado em 2024, apenas 8% dos resíduos
sólidos são reciclados, e o consumo de plástico
continua aumentando, mostrando os limites físicos e químicos
da reciclagem.
Segundo especialistas, a reciclagem
degrada a qualidade dos materiais e, sem regulação
sobre aditivos e contaminantes, pode causar impactos à saúde
e ao meio ambiente. Globalmente, apenas 9% dos plásticos
são reciclados, enquanto no Brasil o índice de embalagens
plásticas chegou a 24,4% em 2024. Para melhorar, o governo
lançou uma nova norma de logística reversa, com meta
de reciclar 50% das embalagens até 2040. Para a Aliança
Resíduo Zero, o desafio é mais amplo, incluindo compostagem,
redução de rejeitos e metas climáticas, lembrando
que o debate sobre resíduos está ligado à crise
climática.
Da Redação, com
informações de agências de notícias
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay
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