17/11/2025
– Em 25 de maio, o navio porta-contêineres liberiano
MSC Elsa 3 afundou a 21 km da costa de Kerala, na Índia,
provocando um desastre ambiental. Embora a mancha de óleo
tenha sido parcialmente controlada e os tanques vedados para evitar
novos vazamentos, o impacto mais grave veio da liberação
de nurdles — pequenas pelotas de plástico usadas na
indústria — transportadas em 71.500 sacos. Quase três
meses depois, apenas 7.920 sacos foram recuperados, e a poluição
por microplásticos continua afetando a frágil costa
do Mar Arábico.
Milhões de nurdles continuaram
chegando à costa de Thiruvananthapuram, capital de Kerala,
durante as fortes tempestades de monção em junho,
destruindo trechos de praia e se acumulando perto da igreja de Vettukadu
e nas linhas de maré. Voluntários recolheram o plástico
em sacos de juta que aguardam coleta, mas especialistas alertam
que, por serem leves e flutuantes, esses microplásticos permanecerão
nas areias e correntes oceânicas por anos. Para moradores
locais, como o pescador Ajith Shanghumukham, a poluição
não afetou apenas o meio ambiente, mas também o modo
de vida da comunidade.
Após o vazamento, a pesca em
quatro distritos de Kerala foi suspensa, mas o medo de contaminação
continua afetando as comunidades pesqueiras, já impactadas
pela redução dos estoques de peixes e pelas tempestades
agravadas pelas mudanças climáticas. Muitos pescadores
evitam o mar, já que os mercados rejeitam os peixes, e os
que se arriscam relatam redes cheias de nurdles e queda nas capturas.
Apesar de uma indenização simbólica de 1.000
rúpias por família, o valor cobre menos de uma semana
de renda, aprofundando a pobreza entre os pescadores locais.
Nurdles, pequenos pellets de plástico
entre 1 e 5 mm, são usados como matéria-prima na fabricação
de produtos plásticos e são considerados microplásticos.
Eles representam uma grave ameaça à vida marinha,
pois são facilmente confundidos com alimento por peixes,
camarões e aves. Além disso, funcionam como “esponjas
tóxicas”, absorvendo substâncias químicas
perigosas, como PCBs e PFAs, e transportando bactérias nocivas,
como a E. coli. Quando ingeridos, liberam toxinas que se acumulam
nos organismos e se concentram ao longo da cadeia alimentar, podendo
afetar também os seres humanos que consomem frutos do mar.
Reprodução/Indian Ministry
of Defense
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Segundo o pesquisador Joseph Vijayan,
o vazamento em Kerala ocorreu em um momento e local críticos:
a região de ressurgência de Malabar, onde quase metade
dos peixes marinhos da Índia é capturada, e durante
a temporada de monções, período de alta produtividade
marinha. A situação se agrava com relatos de nurdles
aparecendo em praias do Sri Lanka, relembrando o desastre ambiental
do navio X-Press Pearl em 2021, que derramou 1.680 toneladas de
nurdles no mar.
O desastre ambiental em Kerala, destacou
falhas graves na regulamentação, transparência
e responsabilização da cadeia global de suprimentos
de plásticos. Ambientalistas alertam para a natureza transfronteiriça
da poluição por pellets, que afeta países independentemente
de sua participação na produção. Segundo
especialistas, faltam padrões globais aplicáveis desde
a produção até o transporte. A limpeza pode
levar até cinco anos, e o estado de Kerala pediu uma indenização
de US$ 1,1 bilhão à empresa MSC, que fretou o navio;
a companhia, por sua vez, contesta a jurisdição e
busca limitar sua responsabilidade.
Os vazamentos de pellets de plástico
(nurdles) estão se tornando um problema ambiental global
crescente. Em 2024, milhões de nurdles foram encontrados
nas costas da Grã-Bretanha e da Espanha, e comunidades afetadas
enfrentam longas esperas por indenização — como
no Sri Lanka, onde só recentemente os responsáveis
pelo desastre do navio X-Press Pearl foram condenados a pagar US$
1 bilhão. Estima-se que 445.000 toneladas de nurdles entrem
no meio ambiente a cada ano, e os vazamentos no mar estão
aumentando. Com a produção global de plástico
projetada para triplicar até 2060 e eventos climáticos
extremos se tornando mais comuns, a ameaça deve crescer,
mas ainda não há regulamentações internacionais
sobre o transporte seguro desses pellets nem reconhecimento formal
de seu risco ambiental.
O vazamento em Kerala, considerado
devastador pela biodiversidade da região, era previsível
após o desastre do X-Press Pearl. Especialistas apontam falhas
graves: navios não são obrigados a declarar o transporte
de nurdles, que não são classificados como materiais
perigosos, e a maioria dos vazamentos ocorre por erro humano. Leis
específicas poderiam prevenir até 95% desses casos.
Pesquisas mostram que produtos químicos lixiviados dos plásticos
podem deformar o plâncton, e dos 16.000 compostos presentes
no plástico, 4.000 são perigosos e os efeitos da maioria
ainda são desconhecidos.
Da Redação, com
informações de agências internacionais
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Indian Ministry of Defence
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