19/11/2025
– O isopor, ou poliestireno expandido (EPS), é um material
muito utilizado na produção de embalagens, principalmente
de alimentos, devido à sua capacidade de proteção
e transporte, baixo peso e custo, além da capacidade de amortecimento
e retenção de temperatura. Apesar disso, o isopor
representa um risco ao meio ambiente por ser um derivado de petróleo,
levar centenas de anos para se decompor na natureza e, quando descartado
inadequadamente, comprometer ecossistemas inteiros.
Com o objetivo de encontrar alternativas
ecológicas e economicamente viáveis ao isopor, uma
equipe de pesquisadores do Departamento de Química da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP)
da USP formulou e produziu protótipos de bandejas com as
principais qualidades do EPS para armazenamento e transporte de
alimentos, mas que pudessem facilmente se decompor na natureza.
A nova formulação envolveu
dois compostos principais: o amido (polímero biodegradável)
e a cúrcuma (subproduto vegetal). O amido é um composto
capaz de produzir espuma que, quando misturada com um resíduo
vegetal como a cúrcuma, melhora sua consistência, otimizando
a resistência à água e o isolamento térmico
sem oferecer impactos ambientais.
Principal pesquisador do estudo, Guilherme José Aguilar afirma
que os protótipos de bandejas biodegradáveis criados
oferecem vantagens ecológicas em relação ao
EPS, pois “as bandejas de amido com cúrcuma são
obtidas de fontes renováveis, são totalmente biodegradáveis
e se decompõem rapidamente no ambiente”.
Em contraposição, ressalta
que o EPS “pode se fragmentar em partículas muito pequenas,
conhecidas como microplásticos, que permanecem no meio ambiente
por séculos e representam um risco crescente para a fauna
marinha, cadeias alimentares e para a saúde humana”,
diz.
Alternativa aprovada para alimentos
perecíveis e fast food
Sob orientação da professora Delia Rita Tapia Blácido,
Aguilar desenvolveu os protótipos de bandeja com a formulação
de espuma tendo como principais elementos o amido de mandioca e
o resíduo da extração de pigmento de cúrcuma
(muito usada na culinária). A composição da
mistura também contou com glicerol, goma guar, estearato
de magnésio e água. Para produção dos
protótipos foi usada uma termoprensa industrial, máquina
utilizada na indústria para moldar materiais sob pressão
e calor.
O estudo avaliou quatro proporções
de amido/cúrcuma: 100:0 (bandeja controle, sem resíduo),
90:10, 80:20 e 70:30. Essas variações, esclarece o
pesquisador, permitiram analisar como a quantidade do resíduo
da extração de pigmento de cúrcuma influenciava
as propriedades físicas, mecânicas e funcionais dos
protótipos de bandeja, que também foram submetidas
a testes comparativos com as feitas de isopor, verificando propriedades
de biodegradabilidade e resistências à água
e ao calor.
As análises finais mostraram
que a adição de cúrcuma na composição
das bandejas foram responsáveis por menor absorção
de água, melhor repelência ao contato com líquidos
e porosidade reduzida. Já em comparação com
as bandejas de isopor, “embora as bandejas de amido com resíduo
de cúrcuma não sejam totalmente impermeáveis
como as bandejas de EPS, elas demonstraram maior resistência
mecânica e menor alongamento”, acrescenta Aguilar.
Em relação à
resistência ao calor, os protótipos se deterioraram
a partir dos 250°C, “por esse motivo, não são
recomendados para uso em fornos ou em situações de
calor intenso”, alerta o pesquisador que recomenda seu uso
em temperaturas de até 100 °C. Desta forma, seu
“principal uso seria em embalagens para alimentos do tipo
fast food ou para alimentos perecíveis, como frutas, legumes
e vegetais, que exigem armazenamento seguro, porém em temperatura
ambiente ou refrigerada”.
Reprodução/Guilherme
José Aguilar
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Já o teste de biodegradabilidade,
principal destaque da pesquisa, foi realizado enterrando as amostras
do material das bandejas em solo rico em matéria orgânica
a uma profundidade de 3 centímetros durante 31 dias, simulando
as condições naturais de descarte no meio ambiente.
A bandeja controle, feita com 100% de amido, se degradou completamente
em apenas 14 dias, enquanto as que continham resíduo de cúrcuma
levaram mais tempo para se decompor, de 28 a 31 dias.
Em contraste, a bandeja feita de EPS
(isopor) não apresentou qualquer sinal de degradação
ao longo do experimento, “evidenciando que as bandejas produzidas
com amido e resíduo de cúrcuma representam uma alternativa
ambientalmente mais sustentável, por serem totalmente biodegradáveis
em um curto espaço de tempo”, avalia Aguilar.
Forte potencial comercial
Diante dos resultados, que podem ser conferidos em artigo da Journal
of Cleaner Production, o pesquisador afirma que “existe uma
grande perspectiva para que o produto seja inserido no mercado,
devido ao forte potencial comercial, especialmente em mercados que
valorizam soluções sustentáveis para embalagens
descartáveis, atendendo à crescente demanda por alternativas
ecologicamente viáveis”.
A versão que apresentou o melhor
equilíbrio entre resistência mecânica, resistência
à água e biodegradabilidade foi a do protótipo
90:10. Porém, adianta Aguilar, apesar do potencial para ser
uma alternativa ao EPS, o produto ainda precisa passar por mais
testes.
Como próximos passos do estudo,
o pesquisador informa que devem realizar testes em escala industrial
para confirmar o desempenho do material em condições
reais, além de uma análise da viabilidade econômica
para garantir competitividade no mercado. “Também será
avaliado o comportamento do material em contato direto com alimentos
reais, assegurando sua segurança e funcionalidade”,
finaliza Aguilar. Texto: Leonardo Ozima
Do Jornal da USP
Fotos: Reprodução/Guilherme José Aguilar
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