24/11/2025
– Agência FAPESP – Maria Fernanda Ziegler | Agência
FAPESP – A produção e o uso de mais de 400 milhões
de toneladas de plástico por ano têm contaminado praias,
rios e até o lugar mais profundo dos oceanos, a 11 mil metros
de profundidade. Para além dos impactos ambientais visíveis,
o plástico também impacta as mudanças climáticas:
estima-se que a sua produção seja responsável
pela geração de 1,8 bilhão de toneladas de
gases do efeito estufa por ano. Evidências científicas
sugerem ainda que o uso de materiais plásticos na vida cotidiana
tem também impactado a saúde humana.
Uma quantidade muito grande de partículas
de plástico, que se desprendem de cortinas, móveis,
roupas ou qualquer outro objeto feito do material, fica em suspensão
no ar, se solubiliza na água potável, ou adere a alimentos,
podendo ser inalada, ingerida ou entrar em contato com a pele das
pessoas. Como resultado, cientistas já encontraram microplástico
no sangue, no cérebro, na placenta, no leite materno e até
mesmo nos ossos humanos.
Um estudo vinculado a um projeto de
pesquisa apoiado pela FAPESP e publicado na revista Osteoporosis
International revisou 62 artigos científicos e constatou
que o microplástico também tem prejudicado a saúde
óssea de diferentes formas. Um exemplo notável é
a capacidade desses materiais de comprometer as funções
das células-tronco da medula óssea, ao favorecer a
formação de células multinucleadas, denominadas
osteoclastos, que degradam o tecido em um processo conhecido como
reabsorção óssea.
“O potencial de impacto dos
microplásticos nos ossos é motivo de estudos científicos
e não é desprezível. Por exemplo, estudos in
vitro com células do tecido ósseo demonstraram que
o microplástico prejudica a viabilidade celular, acelera
o envelhecimento das células e altera a diferenciação
celular, além de promover inflamação",
afirma Rodrigo Bueno de Oliveira, coordenador do Laboratório
para o Estudo Mineral e Ósseo em Nefrologia (Lemon) na Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(FCM-Unicamp).
Oliveira relata ainda que estudos
realizados em animais descobriram que com a aceleração
da senescência dos osteoclastos pode ocorrer comprometimento
da microestrutura óssea e displasia, o que pode provocar
enfraquecimento, deformidades e, possivelmente, propiciar a ocorrência
de fraturas patológicas. “Nesse estudo, os efeitos
adversos observados culminaram, de forma preocupante, na interrupção
do crescimento esquelético dos animais”, diz o pesquisador.
Oliveira explica ainda que, embora
os efeitos dessas partículas nas propriedades mecânicas
dos ossos ainda não estejam totalmente compreendidos, os
dados sugerem que a presença do material circulando no sangue,
por exemplo, possa comprometer a saúde óssea. “O
mais impressionante é que um conjunto significativo de estudos
sugere que os microplásticos podem atingir a intimidade do
tecido ósseo, como, por exemplo, a medula óssea, e
potencialmente causar diversas perturbações em seu
metabolismo”, diz.
Conexão
Não por acaso, a equipe de
Oliveira está começando um projeto de pesquisa que
vai verificar na prática o que parece ser perfeitamente possível
na teoria: a relação entre a exposição
aos microplásticos e o agravamento de doenças ósseas
metabólicas. A partir de pesquisa em modelo animal, os cientistas
vão investigar o efeito do microplástico na resistência
de ossos do fêmur de roedores.
De acordo com a International Osteoporosis
Foundation (IOF), a prevalência de fraturas por osteoporose
está aumentando em todo o mundo por causa do envelhecimento
da população. Estima-se que ocorra um aumento de 32%
nas fraturas por osteoporose até 2050.
“Melhorar a qualidade de vida
e reduzir o risco de complicações ósseas, como
fraturas, é uma prioridade na área da saúde.
Já sabemos que práticas como exercícios físicos,
alimentação equilibrada e tratamentos farmacológicos
contribuem significativamente para isso. No entanto, apesar de as
doenças osteometabólicas serem relativamente bem compreendidas,
existe uma lacuna quanto à influência de microplásticos
no desenvolvimento dessas doenças. Por isso, um de nossos
objetivos é gerar evidências na direção
de que os microplásticos poderiam ser uma potencial causa
ambiental, controlável, para explicar, por exemplo, o aumento
da projeção de fraturas ósseas”, diz
Oliveira.
O artigo Effects of microplastics
on the bones: a comprehensive review pode ser lido em: https://link.springer.com/article/10.1007/s00198-025-07580-4.
Do World Economic Forum
Fotos: Reprodução/Pixabay
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