04/06/2024
– Dada a atual crise climática e a disseminação
generalizada da poluição por plásticos em todo
mundo, muitas pessoas veem na reciclagem, especialmente de plásticos,
uma solução rápida para esses problemas. A
reciclagem contribui positivamente para o meio ambiente, reduzindo
o uso de recursos, evitando desperdícios, e diminuindo as
emissões de CO2, por isso é frequentemente citada
como um dos principais componentes da economia circular. No entanto,
apesar de alguns materiais serem adequados para reciclagem, o processo
de reciclagem de plásticos é complexo e envolve uma
série de objetivos conflitantes.
É de suma importância
encaminhar os plásticos de origem fóssil para reciclagem,
em vez de optar pela incineração (reciclagem térmica),
ou mesmo descartá-los no meio ambiente após apenas
um uso. Em muitos municípios Suíços, por exemplo,
as misturas de plástico podem ser depositadas em sacos de
coletas específicas, possibilitando sua separação
por máquinas e posterior reciclagem.
Contudo, o processo de reciclagem
alcança seus limites rapidamente. Dentre os processos de
reciclagem, o processo de reciclagem mecânica é mais
benéfico ao meio ambiente, quando o material reciclado substitui
a maior quantidade possível de material primário.
Evitando assim a emissão de CO2, proveniente da produção
e incineração, além de impedir seu depósito
em aterros sanitários ou no meio ambiente. Apesar disso,
a substituição de novos plásticos por materiais
reciclados, requer material de alta qualidade, onde reside o problema.
É preciso lembrar que são
produzidos e utilizados uma variedade enorme de plásticos.
Plásticos são formados pela junção de
inúmeras cadeias poliméricas compostas por unidades
monoméricas repetidas, que dependendo da finalidade do plástico
que está sendo produzido, poderá conter a adição
de muitos produtos químicos, incluindo estabilizantes, plastificantes
e retardadores de chama, que fornecem aos plásticos as propriedades
necessárias. Em um relatório do Programa das Nações
Unidas para o meio ambiente, foram elencados 13.000 produtos químicos
utilizados na produção de plásticos. Uma boa
parte deles causa prejuízos ao meio ambiente e a saúde
humana e a maioria destes não estão adequadamente
regulamentados.
Além de causar danos ao meio
ambiente e à saúde humana, a enorme quantidade de
aditivos conferidos aos plásticos, em geral reduzem a qualidade
do material reciclado, dificultando o processo de reciclagem ou
tornando o quase impossível, impactando assim na quantidade
de material recolhido, pois boa parte deles não poderá
ser aproveitada.
Um dos problemas é que os produtos
plásticos de longa duração muitas vezes contém
aditivos e se a reciclagem não for cuidadosamente gerida,
resultará na maior permanência desses produtos químicos
em circulação.
A indústria alimentícia
na maioria das vezes é isenta de declarar as formulações
e ingredientes, usados na produção de seus plásticos.
Assim os pesquisadores não possuem dados do que contém
na maioria dos produtos plásticos, e se estes podem ou não
ser recicláveis.
Como parte de um estudo publicado
na Environmental Science & Technology, cientistas se uniram
a colegas de outras universidades suíças para investigar
revestimentos de plástico para pavimentos feitos de cloreto
de polivinilo (PVC). O PVC é um plástico importante
na indústria da construção que é frequentemente
reciclado (taxa de reciclagem: 16%). Foram testados no estudo, 151
novos pisos de PVC para metais pesados, plastificantes e outros
produtos químicos, todos novos e adquiridos na Suíça.
Os resultados foram alarmantes. Em
24 dos novos revestimentos para pavimentos (16%), foram levantados
aditivos nocivos proibidos de circulação há
muitos anos, como o chumbo utilizado como estabilizante e o plastificante
DEHP, um ortoftalato. A utilização de chumbo e DEHP
em novos materiais foi proibida na UE e na Suíça devido
aos riscos para a saúde.
Encontrar estas substâncias
em novos revestimentos para pavimentos deve ser. Provavelmente,
relacionada ao PVC reciclado contaminado, conforme os pesquisadores.
Em 29% dos revestimentos para pavimentos foram encontrados ortoftalatos
como plastificantes que apesar de serem regulamentados, são
substâncias preocupantes. Alguns ftalatos são potencialmente
desreguladores endócrinos e cancerígenos e têm
sido associados a uma série de condições médicas.
Há muitos anos os pesquisadores
consideram que os pavimentos de PVC são uma importante fonte
de produtos químicos perigosos no interior dos edifícios
ao liberarem plastificantes. Entretanto, existem poucos dados sobre
sua composição química.
Com isso, a grande variedade de produtos químicos contidos
nos plásticos e a falta de dados sobre os mesmos, podem gerar
problemas à economia circular e colocar potencialmente as
pessoas e o meio ambiente em perigo.
São necessárias mais
pesquisas para encontrar novos métodos de reciclagem para
materiais de pavimentos em PVC serem sustentáveis e não
causarem danos à saúde humana. Para isso serão
necessários controles e processos mais rigorosos que removam
produtos químicos nocivos, do material de PVC reciclado.
Hoje, já existem tecnologias para detectar plastificantes
ftalatos em plásticos e estes devem ser integrados no sistema
de reciclagem.
Entretanto, não existem métodos
de detecção rápidos e simples para toda a variedade
de produtos químicos adicionados em plásticos. Por
isso, precisam ser desenvolvidas análises para outros tipos
de plásticos e produtos químicos, além de serem
adaptados aos processos produtivos.
Para que se façam mais substituições
de materiais no futuro é preciso que sejam desenvolvidos
materiais reciclados de melhor qualidade. Priorizando a diminuição
do número de diferentes plásticos produzidos e produtos
químicos utilizados, padronizando o uso de materiais que
envolvam processos de reciclagem desde o início, principalmente
com transparência na cadeia de abastecimento.
Da Redação, com
informações de agências internacionais
Fotos: Reprodução/Pixabay
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